Há dois meses no poder, Bolsonaro é menos aprovado do que Lula e Dilma
Especialistas apontam erros que fragilizaram a imagem do presidente da República. Pesquisa mostra desempenho abalado
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), tem a menor avaliação positiva para o começo de mandato desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2003. A falta de prestígio é atribuída por analistas políticos à comunicação atribulada que tem marcado a atual gestão federal.
Considerando apenas os presidentes eleitos pelo voto popular, Bolsonaro só não teve desempenho pior do que Dilma Rousseff (PT) em 2015, quando a petista já era abatida pelo início da crise que culminou no seu impeachment.
Com o início da Operação Lava Jato e uma forte crise política, Dilma Rousseff (PT) viu seu prestígio derreter. Estreante na disputa por cargos eletivos, ela chegou a ter o apoio de 49,2% dos brasileiros. Em meados do seu segundo mandato, a ex-presidente começou uma trajetória de declínio. Somente neste momento, Bolsonaro tem desempenho superior. A vantagem do pesselista sobre Dilma chega a 28 pontos percentuais. Vale lembrar que a crise enfrentada por Dilma culminou em sua destituição da Presidência da República.
Especialistas acreditam que o desgaste provocado pela demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno, a interferência dos filhos Eduardo, Carlos e Flávio, além da proposta de reforma da Previdência, colaboram para o enfraquecimento da imagem do atual ocupante do Palácio do Planalto. Contudo, eles são categóricos: a comunicação é o que mais atrapalha o desempenho do governo Bolsonaro.
Dois meses de governo
No fim da semana, Bolsonaro completa dois meses de gestão. A avaliação pessoal dele tem aprovação de 57,5% dos brasileiros, 28,2% desaprovam e 14,3% não souberam opinar. Para Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, o desleixo com a comunicação institucional do peesselista na largada do mandato afetou os números.
Ninguém se preocupa com a figura do presidente. A interferência da família e a falta de uma versão oficial dos fatos atrapalham. O porta-voz (Otávio do Rêgo Barros) faz o briefing no fim do dia para apagar o incêndio, mas muita coisa já queimou“
O especialista destaca que é necessário separar os conflitos familiares. “Para administrar uma imagem, é preciso uma comunicação oficial. Falar pela rede social não tem a eficiência oficial de um governo. É deixar a imagem jogada às moscas. Outra lição é: roupa suja se lava em casa para a situação não sair de controle”, completa Manhanelli, ao se referir à interferência dos filhos do presidente no comando do Planalto.
A demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno e a interferência dos filhos do presidente no cotidiano presidencial foram tema da pesquisa. Segundo a CNT, para 75,1% dos entrevistados, familiares não devem influenciar as decisões do presidente, independentemente de serem políticos ou não. Mais da metade acha que a exoneração de Bebianno foi justa – opinião expressa por 54,5% dos ouvidos, no total. Contudo, 73,3% acreditam que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) influenciou a decisão do pai em demitir o ex-ministro.
Dificuldade de comunicação
Antônio José Barbosa, professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), lista quatro fatores para o comprometimento da avaliação do presidente. “Propor uma reforma da Previdência é impopular em qualquer lugar do mundo, o que gera reação dos mais diversos setores. Aliado a isso, se tem uma dificuldade de articulação política, sobretudo com o Congresso”, destaca.
Ele acrescenta que a gestão repartida em blocos — o professor desenha quatro alas: militar, policial-jurídica, social e econômica — passa a impressão de um governo perdido. E assim como Manhanelli, Barbosa ressalta as dificuldades de comunicação como empecilhos a uma boa avaliação de Bolsonaro e seu governo. “É curioso ver a equipe com dificuldades de se comunicar, sobretudo pelas redes sociais, já que durante a campanha teve uma atuação importante”, pondera.
Sem Temer e FHC
A série histórica da CNT não conta com levantamentos no início do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No fim de sua primeira gestão, o tucano tinha 32% de aprovação. A primeira pesquisa sobre sua atuação foi realizada em julho de 1998. Ele assumiu o Palácio do Planalto em 1995.
O ex-presidente Michel Temer (MDB) assumiu o comando do Planalto após o impeachment de Dilma, em agosto de 2016. Sem ter disputado a preferência do eleitor nas urnas, o emedebista, quando comparado com os demais mandatários, tem a pior avaliação. Ela chegou a 10,3%. No fim da gestão Temer, o presidente já acumulava a reprovação de 81,5% dos brasileiros, segundo pesquisa CNT divulgada em setembro de 2018.
O Metrópoles de baseou na série histórica de pesquisas CNT/MDA. O levantamento divulgado nesta terça-feira (26/2) ouviu 2.002 pessoas, entre 21 e 23 de fevereiro, em 137 municípios de 25 unidades federativas, das cinco regiões do país. A margem de erro é 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o índice de confiança é de 95%. O Palácio do Planalto não comentou dos dados do levantamento.
Fonte: /METRÓPOLES