Disputa por espaço entre católicos e candomblecistas no Bonfim é mediada pelo MP
Religiosos do Candomblé acusam padre de tentar expulsá-los da festa; católico diz que sacerdotes fazem cobranças por rituais
O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) acompanha a disputa entre religiosos do Candomblé e da Igreja Católica por espaço na principal celebração religiosa que acontece em Salvador, a Lavagem do Bonfim.
Os candomblecistas acusam o padre Edson Menezes de tentar expulsá-los da festa na colina sagrada. Por outro lado, o líder católico diz receber reclamações de turistas sobre a atuação deles, com supostas cobranças feitas a turistas pelos rituais.
De acordo com reportagem do Correio publicada hoje (2), a promotora Lívia Vaz participou de uma reunião entre as duas partes no dia 18 de março.
Atualmente, integrantes de nove terreiros fazem parte da celebração e oferecem rituais como banho de folhas, de milho e de água. No ano passado, os religiosos do Candombé denunciaram ao MP-BA as primeiras tentativas de expulsão. Eles dizem que, a mando do padre Edson, homens começaram a abordá-los e pedirem para que deixassem o local.
Sem resposta à denúncia, a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) encaminhou um novo ofício ao MP-BA em janeiro deste ano e então ocorreu a primeira reunião.
No encontro intermediado pela promotoria, participaram o presidente da AFA, Leonel Matos, padre Edson, e representantes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), responsável pelo ordenamento de ambulantes na praça.
“O espaço é público e as pessoas que estão ali são sacerdotes tanto quanto ele. Exigimos o respeito devido. Por que padre Edson quer ocupar o local apenas com a Igreja Católica? Vemos como um caso clássico de intolerância religiosa, de racismo religioso”, afirmou Leonel ao Correio.
O padre diz que tem o interesse de ordenar o local porque turistas teriam reclamado dos valores “exorbitantes cobrados, ameaças em caso de não pagamento e troca de roupas em praça pública”.
“Minha preocupação é com o assédio ao turista e cobrança de um valor exagerado. Existe uma reclamação, eu não acho correto. Eles acham que tem o direito de circular a praça. Claro, a praça é pública. Mas é uma praça localizada em frente a uma igreja”, afirma padre Edson.
A versão é negada pelo outro lado. “Eu quero saber porque não posso estar ali. Ninguém me responde isso. A gente não entra na Igreja nem quando chove para não causar desconforto”, defende pai Alex, que participa do Bonfim há 11 anos.
A questão ainda aguarda desfecho, sem prazo para realização da nova reunião. A promotora Lívia Vaz disse que não poderia comentar o caso à reportagem.
Fonte: Metro 1