‘Minha ideia é levantar a bandeira’, diz policial transexual após beijo de PM no Metrô de SP
O investigador da Polícia Civil Paulo Vaz apoiou Leandro Prior nas redes sociais e quer inspirar outras pessoas. ‘Esse preconceito não precisa existir. Se estou na polícia, qualquer um pode.’
Por Bárbara Muniz Vieira e Tahiane Stochero, G1 SP, São Paulo
Transexuais ou transgêneros são pessoas que têm uma identidade de gênero ou expressão de gênero diferente da que lhes foi atribuída no nascimento. No caso de Paulo, ele nasceu com o sexo feminino e há dois anos iniciou o processo de transição de gênero. Ele já alterou, inclusive, o seu nome nos documentos.
Um indivíduo transgênero pode se identificar em relação a sua orientação sexual – que diz respeito ao lado afetivo e à atração sexual – como heterossexual, homossexual, bissexual, entre outras nomenclaturas. Homem trans, Paulo se identifica como homossexual.
Investigador desde abril deste ano da Policial Civil da Delegacia de Ibiúna, na região da Grande São Paulo, Paulo Vaz conta que sempre se sentiu bem-vindo na instituição.
“Eu achava que encontraria muitas barreiras, mas fiquei bastante feliz e surpreso com a recepção dos meus colegas desde o começo. Eu já sabia que há diferença entre as instituições de Polícia Militar e Polícia Civil, mas eu fiquei bastante surpreso”, conta.
“Minha ideia é levantar a bandeira. Quis colocar a cara mesmo e assumir que sou homem trans gay, que estou numa instituição da polícia e estou aqui para ajudar a população. Não tem de ver se a gente gosta de homem ou mulher, tem de ver o nosso caráter”, diz Paulo.
Sobre o PM Leandro Prior, Vaz acredita que, se ele realmente infringiu alguma regra da PM, é preciso punir todo mundo que faz o que ele fez. “Tem casal hétero que beija o namorado publicamente enquanto usa farda e nunca causou toda essa repercussão”, declarou.
‘Sentia uma angústia o tempo todo’
Em entrevista ao G1, Paulo contou que desde criança sentia que tinha algo errado com seu corpo. A dificuldade aumentou na adolescência.
“Eu sempre fui diferente. Sentia uma angústia o tempo todo. Fui uma criança bem masculina. Tem criança feminina que se identifica com o universo masculino, mas é mulher mesmo. Eu não me sentia assim. Na adolescência, quando começaram a nascer os seios, comecei a me sentir mais desconfortável. Eu queria ser homem, mas na época não sabia que isso existia. Tinha medo das pessoas acharem que eu era doido se dissesse isso”, conta Paulo.
O investigador conta que só soube que existia a possibilidade de transicionar, iniciar o processo de mudança de gênero, aos 25 anos, por meio de um amigo.
“Fui olhar vídeos de meninos [trans] tomando testosterona e via a transformação no corpo deles em dois, três meses. Falei ‘Meu Deus, eu sou isso, sou homem trans’. Até amadurecer a ideia foram uns seis meses, porque eu estava prestando o concurso na polícia. [Pensei] deixa eu passar [no concurso], e depois vejo o que faço”, relembra ele.
“Hoje eu me olho no espelho e não tem mais aquela angústia. Estou onde eu queria estar profissionalmente. Me sinto realizado. Faltam algumas coisas ainda para chegar aonde quero, mas estou no caminho”, conclui.
“Comecei o processo de hormonização, que é tomar testosterona, há dois anos. Tem algumas formas de tomar testosterona, tem a forma em gel, pomada, oral e injetada. O corpo precisa de um pico de testosterona para se masculinizar. Optei pela forma injetada porque faz diferença mais rápido. Começam a aparecer as características de barba, muda a voz. E também fiz a cirurgia de retirada das mamas.”
Paulo ainda não concluiu a transição, mas já se sente feliz com as mudanças. “Eu me sinto super bem só pretendo fazer a retirada dos ovários e útero. Como precisa de três meses para se recuperar, ainda não deu certo.”
Paulo conta que a família e os amigos o apoiaram no processo de transição. “Minha família foi muito tranquila, ninguém fez objeção nenhuma. Minha mãe é da área da saúde, então ela quer saber se estou seguro, cada passo dos procedimentos. E os amigos são tranquilos, a maioria é LGBT.”
Apoio ao PM vítima de ataques
Paulo conta que sentiu vontade de apoiar o policial militar Leandro Prior não só para combater o preconceito, mas também para inspirar outras pessoas a transacionar, se quiserem.
Fonte; G1