GGB chama atenção para preconceitos que impedem o voto em candidatos LGBTI+
A identificação entre um eleitor e um candidato é reflexo de uma série de fatores. No entanto, em particular no caso da comunidade LGBTI+, a trajetória em uma sociedade ainda homofóbica e conservadora não necessariamente é determinante. O vínculo pela categoria profissional, por exemplo, costuma ser mais eficaz na escolha de um candidato do que a orientação sexual ou identidade de gênero.
A avaliação é do presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira. Em entrevista ao bahia.ba, o ativista observou que outras questões também atravessam a relação dentro da comunidade LGBTI+, como recortes social e racial.
Cerqueira ponderou que o ocupante de um cargo público elegível precisa pensar na sociedade como um todo. No entanto, antes disso é preciso discutir os preconceitos que ainda existem na comunidade LGBTI+ e impedem o voto orientado pela representatividade.
“O discurso de um candidato homossexual do bairro de São Caetano às vezes não chega na Barra, ou não chega na Pituba, no Alphaville. Muitas vezes o próprio gay não se identifica com isso, por causa da questão racial, econômica e social”, observou.
Bahia líder em candidaturas LGBTI+
O conflito independe do número de candidaturas LGBTI+ apresentadas. Um levantamento do programa Voto com Orgulho, do Aliança Nacional LGBTI+, indica que a Bahia é o estado líder em candidaturas de gays, lésbicas, transexuais e bissexuais no Nordeste, e o terceiro do Brasil.
O status ainda é preliminar, já que um novo levantamento deverá ser divulgado após candidatos LGBTI+ e aliados da causa confirmarem informações, como número de urna. O número também é instável, já que as candidaturas ainda precisam passar por julgamento da Justiça Eleitoral.
De todo modo, os números levantados até aqui dão uma noção do cenário: 58 candidatos declararam compromisso com as causas LGBTI+ no estado, em 24 cidades baianas. Desse total, 19 são em Salvador.
Uma delas é a candidata Ariane Senna (PSB). Em setembro ela foi alvo de ataque de haters enquanto realizava uma plenária sobre educação. Pela primeira vez concorrendo a cargo na Câmara Municipal de Salvador (CMS), Ariane reforça a importância de candidaturas LGBTI+ para que membros dessa comunidade se enxerguem no centro da política.
“Ser LGBT e estar na política partidária é uma coragem muito grande, e requer muito equilíbrio, requer concentração, muita força de vontade, porque é enfrentar uma barreira em que a gente não se vê refletida. De forma geral, a política é ambiente hostil para mulheres, quiçá LGBT”, observa.
A candidata Leo Kret do Brasil (DEM) acrescentar que a população LGBTI+ já não se sente representada por políticos cis e heterossexuais.
“Nossa comunidade está cada vez mais disposta a ocupar espaços de protagonismo no que diz respeito à criação de políticas públicas, uma demanda antiga da nossa população”, afirma.
Incentivo a candidaturas LGBTI+
A Bahia estar no top 3 de candidaturas LGBTI+ é algo a ser celebrado, mas a proporção ainda é pequena. Se são 58 candidatos declarados comprometidos com as demandas desse grupo, são 58 em um universo de mais de 41 mil candidaturas em todo o estado.
O coordenador de Comunicação do programa Voto com Orgulho, responsável pelo levantamento, observa que, para alavancar o volume de candidaturas, é preciso apoio e direcionamento de verbas. Um incentivo institucional, como aconteceu com candidaturas de mulheres e de pessoas negras, seria também uma alternativa.
“Precisamos que exista apoio dos partidos para que sociedade veja que os partidos apoiam essas candidaturas, só que a gente esbarra no conservadorismo, que ainda não permite que partidos façam isso. A gente precisa que esse conservadorismo seja quebrado para que a sociedade tenha a oportunidade de receber candidatos LGBTI+. Nós precisamos também incentivar pessoas LGBTI+ a se candidatarem, que se disponham à vida política. Precisamos desmistificar essa questão de que todo mundo que entra para a política são pessoas corruptas. Temos pessoas boas”, avaliou.
A candidata à Câmara Municipal de Entre Rios, no interior do estado, Jéssica Sena (PT) defende que cada vez mais mulheres lésbicas, transexuais e bissexuais ocupem espaços de poder. A necessidade é maior nos municípios mais afastados da capital, que ainda não possuem uma visão consistente sobre a representatividade LGBTI+.
“Vivemos em um país onde mais morrem LGBTs todos os dias, ou então sofrem algum tipo de agressão física, moral, psicológica, emocional. Enxergo que a necessidade é grande, é extrema”, acrescentou.
Fonte: Bahia.ba