Vídeo: 6ª vítima de padre denuncia ter sido masturbada dentro da igreja
Em gravação cedida à reportagem, jovem narrou que o pároco pediu para ver o tamanho do seu pênis e, em seguida, começou a tocá-lo.
Em um vídeo cedido à reportagem pela vítima – que não terá a identidade revelada para preservar a sua integridade –, ela revela que o abuso aconteceu dentro da paróquia São Mateus, em Sobradinho, comunidade que Delson Zacarias comandou entre os anos de 2013 e 2018.
Hoje o rapaz tem 26 anos, mas, na data do abuso, comemorava o seu aniversário de 18 anos. “Nesse dia, a gente saiu para comer pizza, tinham outros rapazes com a gente”, relembra. Após a comemoração, ele ficou a sós com o líder religioso. “Ficou combinado de o padre me levar para casa.”
“Achei muito estranho, fiquei assustado, neguei diversas vezes, mas ele insistiu”, diz. Mesmo com a negativa, o padre prosseguiu e começou a tocá-lo. “Ele colocou a mão no meu pênis e começou a masturbar, querendo ver como ele ficaria duro.”
Após a sessão de abuso, que durou cerca de 30 minutos, o padre o deixou em casa, pediu desculpas e disse que era a primeira vez que aquilo tinha acontecido.“Parecia muito estranho pra mim: uma figura de autoridade, alguém que quando a gente se confessa, aponta o que é errado e aí ele pede para ver o meu pênis? Ficou uma confusão na minha cabeça. Desde então, vim me afastando das coisas da igreja, não queria me envolver muito.”
Após a repercussão, o jovem registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nesta quarta-feira (14/7), onde o caso é investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Assista o depoimento na íntegra:
Masturbação
Outro homem, hoje com 33 anos, foi mais uma vítima do pároco na adolescência. Ele narrou ter passado uma noite de abusos, em uma cama beliche. Sozinho, dormindo na casa do religioso e acreditando estar seguro, ele – à época com 14 anos – sentiu o corpo nu e suado do padre deitando sobre o dele. O relato é longo e teve início ainda em 2001.
A vítima ressaltou que sempre se confessava com Zacarias e, com o passar do tempo, ele começou a ter comportamentos estranhos. “À época, tinha entre 13 e 14 anos e nunca tinha me masturbado. O padre, durante as minhas confissões, perguntava insistentemente se eu não tinha curiosidade em conhecer meu corpo e dizia que minha escolha de não me masturbar era incomum entre os jovens da minha idade”, narrou.
Certo dia, o menor estava escalado para servir em uma missa durante a semana. O padre perguntou se ele não queria dormir na casa paroquial que, na época, era uma quitinete. “Naquele dia, Zacarias pediu para que eu ficasse à vontade, nós lanchamos e assistimos filme. Ele começou a perguntar se eu queria conhecer melhor o meu corpo e, após várias recusas, ele foi incisivo. Aí percebi que tinha algo de errado, mas já era tarde da noite e eu não iria embora sozinho”, disse.
Corpo nu
Para escapar, o menor afirmou que queria dormir. “Naquele momento, meu único pedido a Deus era que a companhia que morava com ele chegasse. O padre apagou a luz, mas logo em seguida deitou no beliche em que eu estava e, com uma sudorese excessiva, se tremendo todo, tentou me beijar e deitou em cima de mim”, lembrou-se.
Em seguida, a vítima afirmou que o padre tentou abaixar suas calças para masturbá-lo, mas não conseguiu. “Era claro que ele estava bastante excitado, mas, por outro lado, totalmente contrariado com as minhas recusas. Após diversas investidas e sabendo que eu não cederia às tentativas de abuso, ele desistiu. Cerca de meia hora depois, a pessoa que morava com o padre chegou e as tentativas cessaram. Como havia apenas um quarto na quitinete, eu tinha a certeza de que ele não tentaria mais nada”, narrou.
Após o abuso, o coroinha saiu correndo da igreja e retornou para casa. “Eu tinha perdido meu pai havia pouco tempo. Ele se aproximou e tentou abusar de mim no momento em que eu mais precisava de ajuda. Acredito que ele sempre agiu de forma bem calculista em relação às suas vítimas, pois amigos do nosso convívio que o recebiam em casa e pessoas que ele tinha ligação direta com os pais pareciam não sofrer abusos, nem tentativas de abusos”, finalizou.
O outro lado
Procurado pelo Metrópoles, o advogado do padre, Everton Nobre, afirmou que ainda não teve acesso à investigação.
“Diligenciei à DPCA, que ainda não nos forneceu cópias dos supostos abusos. Iremos nos manifestar após o conhecimento dos fatos. Até agora, não há provas de que algo tenha de fato ocorrido. O padre Zacarias está sob cuidados médicos e não pode se manifestar. Infelizmente, já houve um pré-julgamento da mídia, que expôs a situação de forma a destruir a sua boa imagem e reputação, antes mesmo de um procedimento apuratório básico”, disse o defensor em nota.
O que diz a Arquidiocese
Procurada pelo Metrópoles, a Arquidiocese de Brasília, em nota, informou que a igreja presta assistência protetiva e psicológica aos envolvidos e instaurou um processo de investigação. Além de ter providenciado o afastamento do acusado de seu ofício sacerdotal.
Leia na íntegra:
“O Sr. Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, ao tomar conhecimento da acusação de abuso sexual contra menor feita em desfavor do Pe. Delson Zacarias dos Santos, providenciou prontamente o seu afastamento cautelar da função paroquial, determinando o afastamento preventivo do seu ofício sacerdotal até o efetivo esclarecimento dos fatos impróprios apontados, e deu início à chamada ‘investigação prévia’, atualmente em curso.
Além disso o Arcebispo, recebeu a suposta vítima e seus familiares em audiência, acolhendo e manifestando sua proximidade de pastor, prestando assistência protetiva e psicológica aos envolvidos, zelando e expressando o compromisso da Igreja com a proteção de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis, em consonância com as normas eclesiásticas promulgadas por São João Paulo II, e completadas pelo Papa Bento XVI e, mais recentemente, aperfeiçoadas pelo Papa Francisco, no Motu Proprio Vos estis lux mundi.
A Igreja de Brasília conta com uma Comissão Arquidiocesana de Proteção de Menores e Pessoas vulneráveis, presidida pelo Padre Carlos Henrique. Nosso compromisso é cuidar que os ambientes de nossas comunidades sejam seguros e confiáveis para as crianças e adolescentes, acolher as vítimas e as testemunhas de eventuais abusos com todo o respeito e cuidado. Nada mais para o momento.