Zonas Mortas no mar quadruplicaram desde 1950
Zonas Mortas no mar: descubra o que são e onde ficam as maiores
zonas mortas no mar, atualizado.
Este é mais um dos sérios problemas que os oceanos enfrentam: as zonas mortas são áreas sem oxigênio suficiente para que haja vida. Elas estão aumentando em quantidade e tamanho. Em junho de 2008 a Science publicou um artigo de Robert Diaz explicando o fenômeno. O mesmo autor aparece em entrevista no vídeo abaixo. Ele explica que há dois tipos de zonas mortas: as costeiras, e as que ficam em mar aberto.
Zonas mortas costeiras são causadas basicamente por esgotos, fertilizantes e agrotóxicos
As causas são muitas: a mais comum é o despejo de esgotos não tratados; fertilizantes e agrotóxicos, usados na agricultura, também dão grande contribuição. Ao serem despejados no mar, servem como alimento para certos tipos de algas que se proliferam de maneira descontrolada. Quando elas morrem, e chegam ao leito marinho, as bactérias que as decompõem consomem todo o oxigênio existente, de modo que outras formas de vida não conseguem sobreviver no mesmo espaço. São obrigadas a fugir do local.
Maior zona morta costeira fica no Golfo do México
De acordo com os cientistas, a zona morta do Golfo do México está com nada menos do que 22.729 km², quase a área total de El Salvador. E 15 vezes o tamanho da Cidade do México.Trata-se da maior extensão alcançada por esta zona morta desde que começou a ser monitorada em 1985.
Crescimento da zona morta no Golfo do México está relacionado a atividades humanas
A informação é de Robert Magnien, diretor do Centro de Pesquisas de Patrimônio de Oceanos Costeiros da NOAA. Para ele, resíduos gerados pela população (esgotos), o aumento da agricultura na região e o uso de fertilizantes e outros produtos químicos influenciaram a expansão da área, onde a vida marinha é impraticável.
Três coisas que podemos fazer para amenizar as zonas mortas no mar
Robert Diaz diz que…
…há três coisas que podemos fazer para minimizar o problema: a primeira é melhorar a eficiência de nosso sistema de agricultura desenvolvendo plantas que não necessitem a quantidade de fertilizantes que usamos hoje. A segunda seria ‘poupar’ (com menos agricultura) as áreas costeiras. E a terceira, mudar nossos hábitos alimentares substituindo carne por vegetais, já que grande parte dos fertilizantes é usado para produzir comida para animais…
O Mar Sem Fim lembra que no Brasil, apenas 40% de todo o esgoto produzido recebe algum tipo de tratamento, normalmente o primário, que não resolve a questão. Para piorar, o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Não sem motivo nosso litoral está cheio de zonas mortas (ver gráfico abaixo).
Assista a entrevista de Robert Diaz sobre zonas mortas no mar:
Novo estudo da Science: zonas mortas no mar quadruplicaram desde 1950
O novo estudo publicado em janeiro de 2018 traz revelações preocupantes. As zonas mortas do oceano, com oxigênio zero, quadruplicaram em tamanho desde 1950; enquanto o número de locais de oxigênio muito baixo, perto dos litorais, se multiplicou por dez vezes. A maioria das criaturas marinhas não sobrevivem nessas zonas.
Se a tendência continuar, adverte a Science, uma extinção em massa pode acontecer
Se as tendências atuais continuarem, levariam à extinção em massa no longo prazo, arriscando consequências terríveis para as centenas de milhões de pessoas que dependem do mar.
Oceanos alimentam 500 milhões de pessoas, e geram 350 milhões de empregos
Os pesquisadores lembram que os oceanos alimentam mais de 500 milhões de pessoas, especialmente nas nações mais pobres, e oferecem empregos para 350 milhões. Elas serão as primeiras vitimas das mais de 500 zonas mortas já relatadas perto dos litorais mundo afora. Em seguida, todos os outros habitantes do planeta pagarão o custo de nossa pegada.
Zonas mortas em mar aberto: consequência da queima de combustíveis fósseis
Denise Breitburg, no Smithsonian Environmental Research Center em os EUA e que liderou a análise, foi taxativa:
…Os principais eventos de extinção na história da Terra foram associados com climas quentes e oceanos com deficiência de oxigênio. Se continuar a trajetória atual, é para onde nós iremos. Mas as conseqüências para os seres humanos de permanecer nessa trajetória são tão terríveis que é difícil imaginar que iremos tão longe nesse caminho…
O profesor Diaz analisou o novo estudo e também foi categórico:
Atualmente, a crescente expansão das zonas costeiras mortas e o declínio do oxigênio no oceano aberto não são problemas prioritários para os governos de todo o mundo. Infelizmente, será necessária a mortalidade severa e persistente da vida marinha para que o mundo dê a devida atenção ao aquecimento global.
A maior zona morta, com 49 mil Km2, fica no Báltico
De um, até centenas de quilômetros quadrados. A maior zona morta, diz o professor Diaz, fica no Mar Báltico. “Nos últimos 40 anos ela variou entre 49.000 Km2.”
Diaz explica que os motivos que levaram a essa Zona Morta são ações no litoral do Báltico, aliado à pouca circulação da água deste mar ‘quase fechado’. As três maiores zonas mortas são a do Báltico, a do Golfo do México, e a que fica na foz do rio Yang Tsé, na China.
Rio Yang Tsé, China, uma das três maiores zonas mortas no mar
O Yang Tsé é o terceiro maior rio do mundo, com 6.300 km de extensão. Em 2005, 500 mil toneladas de nitrogênio, e 30 mil toneladas de fosfato entraram nos mares em torno da China, incluindo o rio Yang tsé. Estes são os principais ingredientes químicos encontrados nos fertilizantes.
Índico e Pacífico também têm zonas mortas
Robert Diaz diz que o Índico e o Pacífico também têm Zonas Mortas mas, nestes casos, produzidas por processos naturais. Mas o professor explica que as mudanças climáticas, e consequente aquecimento global, contribuem para que elas se expandam dramaticamente. A nova análise, produzida por um grupo internacional criado em 2016 pela Comissão Oceanográfica da Unesco revela que o tamanho total das zonas mortas nos oceanos tem a extensão aproximada da União Européia.
Zonas mortas, consequências da nossa pegada
Que não fique dúvidas ao leitor. O problema é causado por cada um de nós, e de nossos governos. Kirsten Isensee, da comissão do novo estudo, disse:
A desoxigenação do oceano está ocorrendo em todo o mundo como resultado da pegada humana, portanto, também precisamos abordá-la globalmente
Isso quer dizer que todos devemos fazer nossa parte: usar menos o carro particular, dar ou receber carona, usar mais os transportes público, economizar energia, reciclar lixo, todas são ações que estão ao nosso alcance. E ainda: pressionar nossos governantes a fazerem sua parte. É preciso investir em energia limpa, transportes públicos, diminuir as emissões, etc.
Culpar os outros é fácil. Bora lá, fazer nossa parte?
Fontes:
http://www.sciencemag.org/content/321/5891/926; https://www.nrdc.org/onearth/devil-deep-blue-sea; http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,yang-tse-recebeu-33-bilhoes-de-toneladas-de-aguas-residuais-em-2009,612938,0.htm; https://prezi.com/c6-2aoaqhq44/the-yangtze-river/; http://science.sciencemag.org/content/359/6371/eaam7240; https://www.theguardian.com/environment/2018/jan/04/oceans-suffocating-dead-zones-oxygen-starved?mc_cid=c99a801034&mc_eid=53701f2c87
Ilustração de abertura: The Guardian
Fonte; ESTADÃO