A Cia. Street Cadeirante é uma iniciativa pioneira no Brasil. Através de danças e coreografias, o grupo brasiliense transformou a vida de centenas de cadeirantes em todo o país. Tudo começou com o sonho de Carla Maia, jornalista, bailarina e idealizadora do projeto iniciado em 2018.Apaixonada pela dança desde a infância, ela ficou cadeirante aos 17 anos, quando era líder do corpo de baile da banda do colégio em que estudava. A tetraplegia, por muito tempo, impediu a jornalista de dançar. Não pela dificuldade de movimentação, mas pela vergonha e medo dos julgamentos. Mas um dia isso mudou.“Representei o Brasil no Miss Mundo Cadeirante, em 2017. Quando voltei, decidi que queria voltar a dançar, inspirada em artistas dos Estados Unidos. Fui em uma academia e pedi para me matricularem na turma de Street Dance dos andantes. Gostei muito das aulas e adaptava os movimentos do coreógrafo”, conta.
Neste momento, um mundo de oportunidades se abriu para Carla Maia. Ela só não sabia, ainda, que ajudaria muitas outras pessoas com a realização de um sonho próprio. “Queria compartilhar a alegria com minhas amigas cadeirantes. A dona da academia topou e fez uma turma para cadeirantes. Assim surgiu a companhia Street Cadeirante”, lembra.
No início, eram apenas aulas entre amigos. Mas, atualmente, 3 anos depois, o projeto conta com dois eixos. O Street Cadeirante Show é formado por Carla Maia, Mariana Guedes, Delma Ferro, Julliana Lindsem, Vânia Blessed, Estevão Lopes, Carol Belfort e Ana Fiche. Eles são de Brasília, ensaiam semanalmente e realizam apresentações pelo país.
Cia de Dança Street CadeiranteCarol Santi
Os dançarinos de Brasília realizam shows e apresentações na capitalCarol Santi
Os oito integrantes da Cia de Dança Street Cadeirante com o coreógrafo Eduardo AmorimCarol Santi
O segundo eixo é o Street Cadeirante Virtual, com aulas on-line e gratuitas via Zoom, todo sábado, para pessoas com deficiências físicas em qualquer lugar do país. Com 130 inscritos e média de 20 integrantes por aula, o projeto social cresceu e se tornou um espetáculo-documentário.
Com direção artística de Eduardo Amorim, coreógrafo renomado nacionalmente, a Cia. de Dança prepara o lançamento de Rodas em Dança: Livres e Lives. O filme traz a realidade da companhia durante a pandemia, com a superação de dificuldades e muita alegria. Honrado de fazer parte do espetáculo, Eduardo acredita que é um grande aprendizado para todos.
“Eu aprendi muito. Não encontrei, no Brasil, referências de espetáculos de cadeirantes e de espetáculos virtuais, então fomos trilhando um caminho. Construímos um roteiro que mostrasse o mix de sentimentos que eles passaram nessa pandemia. Passamos pelas incertezas e pela solidão até chegar no reencontro. Acho que todos vão se identificar com os relatos e coreografias”, relata.
O coreógrafo, que já trabalhou com nomes como Anitta e Shakira, deu aula para a companhia por vários meses e se redescobriu para acompanhar os diferentes movimentos dos alunos.
“A experiência foi incrível. Alguns têm plena movimentação do tronco, outros têm limitação nos movimentos das mãos, dos ombros. Eu sempre procurei montar coreografias e sequências que pudessem, além de aumentar o vocabulário e repertório deles como dançarinos, encontrar e desenvolver a individualidade deles como artistas, descobrindo seus pontos fortes”, explica.
Carla Maia, idealizadora do projeto, acredita que contar com profissionais experientes foi um ponto positivo como dançarina, mas também uma ótima oportunidade para que as pessoas mudem o olhar sobre os integrantes da companhia.
“Espero que, por meio das nossas performances, consigam enxergar a pessoa antes de ver a deficiência. Dançar é uma oportunidade de transformar vidas por meio da inclusão e transformar o olhar das pessoas com reflexão, sensibilidade e esperança”, pontua.O documentário Rodas em Dança: Livres e Lives estará disponível gratuitamente nas redes sociais da Funarte, a partir de 29 de setembro. Em Brasília, o grupo prepara uma exibição no Cine Drive-in, no dia 30 de setembro, às 18h30, com a presença dos integrantes da Cia de Dança. Os ingressos são por veículo e estão à venda por R$ 70, na plataforma Sympla.