Augusto Vasconcelos, candidato à Assembleia Legislativa, discute política e campanha com segmentos da sociedade alagoinhense
Augusto Vasconcelos (PCdoB), presidente licenciado do Sindicato dos Bancários, ex-vice-presidente da UNE, advogado e professor de direito da UNEB, é candidato à Assembleia Legislativa.
Ele esteve em Alagoinhas para dialogar com segmentos da sociedade local. Na quarta participou de debate na UNEB e quinta realizou plenária com apoiadores – bancários, militantes do PCdoB e simpatizantes
Leia entrevista exclusiva do Alagoinhas Hoje com Augusto Vasconcelos.
1. Quais os grandes desafios da eleição este ano?
O principal desafio do país é retomar o crescimento econômico, gerando empregos. Para nós trabalhadores recuperar os nossos direitos, detonados com a Reforma Trabalhista. A soberania nacional também está ameaçada com o desmonte da Petrobras, dos bancos públicos e da Eletrobrás. Estamos em uma encruzilhada e nestas eleições podemos escolher entre dois projetos. Ficarei do lado dos que defendem a democracia e um Projeto Nacional de Desenvolvimento com inclusão social.
2. No mesmo sentido, quais os grandes desafios da esquerda em um ambiente de grande conflagração e de divisão política do Brasil?
Fizemos um tremendo esforço para construir uma ampla Frente que pudesse unificar a esquerda e os setores patrióticos. Infelizmente não foi possível, por variados motivos. A unidade que conseguimos se expressa na chapa Lula, Haddad e Manuela. O país vive um clima de ódio e intolerância na política e em outras áreas, estimuladas por posições fascistas que acirram os ânimos e a violência. Isso não é bom. Precisamos de uma nova etapa, debater projetos para nosso futuro, construir um diálogo nacional que permita ao Brasil ter uma estabilidade institucional que viabilize investimentos e nos faça sair da crise.
3. O modelo de financiamento público foi a melhor alternativa para bancar as campanhas?
O modelo anterior que permitia financiamento de empresas era muito ruim, pois os interesses econômicos davam as cartas no jogo eleitoral. O modelo desta eleição ainda tem imperfeições, pois não institui limites para a auto-doação, ou seja, um candidato milionário pode colocar todo seu patrimônio na campanha, aprofundando as desigualdades na disputa. Sou a favor do financiamento público, mas não concordo com as regras de distribuição atual, pois os grandes partidos vão receber muito mais dinheiro do que os pequenos, aprofundando o fosso e dificultando a renovação na política. Defendo campanhas baratas, com condições igualitárias de disputa, que permita a participação dos trabalhadores, das mulheres, dos jovens.
5. Quais os principais eixos de sua campanha?
Após inúmeros pedidos de colegas e lideranças de vários segmentos, topei o desafio de ser candidato a Deputado Estadual. Trata-se de uma decisão que refleti muito, pois exige um sacrifício pessoal e familiar. Sinto muito a falta dos meus filhos, pois a agenda tem sido cada vez mais apertada, mas tenho certeza de que eles terão orgulho do pai. Faremos um mandato vinculado às lutas dos trabalhadores. Nosso gabinete será uma extensão dos movimentos sociais, uma trincheira em defesa dos mais pobres e contra toda forma de opressão. Minha mãe, oriunda da zona rural, é professora de escola pública, comecei minha militância no movimento estudantil com 16 anos de idade e me tornei professor Universitário há 12, por isso também tenho vínculos muito fortes com a causa da educação. As bandeiras do desenvolvimento econômico, geração de empregos, a defesa do consumidor, questões tributárias e o combate às desigualdades estão entre as prioridades. Tenho clareza de que a Bahia precisa resolver alguns gargalos. A ampliação da capacidade do Estado depende de investimentos em obras de infraestrutura, do fortalecimento da indústria como vetor de crescimento e o papel das universidades estaduais como pólos de inovação tecnológica e desenvolvimento regional. Como se explica, por exemplo, o fato de que a arrecadação de ICMS no Oeste da Bahia é tão baixo, apesar da pujança da exportação de grãos. Não podemos nos contentar em produzir produtos primários, precisamos agregar valor, através de cadeias produtivas de beneficiamento. Levaremos adiante nosso projeto de segurança nos bancos, para combater o alto índice de explosões e assaltos nas agências.
6. Em seus contatos com os cidadãos você percebe mais desesperança do que esperança ou ainda há espaços para a dialogar com segmentos da sociedade não refratários aos políticos?
Por onde tenho caminhado a receptividade tem sido excelente. As pessoas estão cansadas do velho jeito de fazer política, baseada na troca de favores. Hora de virar a página, conversar sobre causas, ideias e como tirá-las do papel. Há um certo desencanto com a política, mas não há saída fora dela. O momento exige novas lideranças, que não sejam artificiais ou filhos dos velhos políticos. Tenho 20 anos nos movimentos sociais, desde os tempos de movimento estudantil e não caímos de paraquedas nesse desafio. É uma história de vida dedicada às lutas populares e as pessoas têm reconhecido isso.
7. A hegemonia petista na Bahia e as alianças mais à direita, como foco no pragmatismo eleitoral e governamental, são as melhores alternativas para o enfrentamento da oposição estadual?
Quando fui da Direção Nacional da UNE, aprendi logo cedo o que significa correlação de forças. Nenhum partido consegue governar uma prefeitura sem alianças, quanto mais a Bahia que é maior que a França. O importante é que as alianças sejam feitas em torno de um programa. Lógico que eu gostaria que meu partido, o PCdoB, tivesse mais espaços na chapa majoritária, porém isso não inviabiliza reconhecer os avanços que o governo Rui produziu em nosso Estado. Ainda tem muita coisa pra avançar, mas é inegável que foi um governo que deu certo em diversos aspectos.
8. Na base do governador Rui Costa estão deputados federais que votaram pelo impedimento da presidenta Dilma Rousseff. Qual a sua visão sobre isso?
Como professor de Direito Constitucional sei que o impeachment da presidente Dilma foi uma fraude, pois não houve crime de responsabilidade. Os deputados que votaram a favor do impeachment, contribuíram pra esse caos que estamos vivendo no país. Espero que a população saiba diferenciar e mostrar sua indignação nas urnas.
9. Como você avalia o papel das redes sociais na campanha deste ano?
Espero que as redes sociais diminuam o fosso entre os políticos e a sociedade. A interatividade, a velocidade das informações e a possiblidade de contato direto são importantes, mas não me iludo, pois mesmo na rede a manipulação de algoritmos faz com que você converse em bolhas, somente com um grupo restrito de pessoas. Até pelo meu perfil de ser um jovem candidato, tenho muita conexão com as redes e espero que possamos combater as fake news e o clima de ódio que alguns propagam. O futuro do
País está em jogo, a palavra chave é diálogo.
10. Como conquistar votos em meio à tanta descrença na capacidade dos políticos trabalharem em prol dos interesses sociais?
Não sou político profissional. Há 20 anos participo da luta política, sem jamais ter imaginado ser candidato a deputado. Sou um professor universitário, advogado e bancário, um cidadão como qualquer outro. Acredito que as transformações da sociedade passam pela política. As decisões são tomadas lá. Se não participarmos, as elites econômicas decidem por nós. O mais inteligente é ocuparmos os espaços de decisão e por isso topei esse desafio de representar os trabalhadores e as trabalhadoras na Assembleia Legislativa. As pessoas têm se identificado e a campanha virou um verdadeiro mutirão, com muita gente colando com essa ideia. Vamos vencer e provar que a nossa consciência vale mais do que a força da grana nestas eleições.
Fonte: Alagoinhas Hoje