Biógrafo de Irmã Dulce narra ‘contrabando’ de freira para visitar papa e relação com futebol
“Faz falta conhecer a história dela no Brasil de hoje”, defende jornalista Graciliano Rocha
Por Juliana Almirante
Ele lança hoje, na Saraiva do Salvador Shopping, em Salvador, a partir das 19h, o livro “Irmã Dulce, a Santa dos Pobres”, da Editora Planeta.
“Acho que Irmã Dulce é uma personagem que faz falta conhecer a história dela no Brasil de hoje. Porque é testemunha de amor ao próximo e de ficar bem com quem quer que seja. Ter um objetivo claro, que no caso dela era o cuidado com os pobres. Se precisava conversar com gente do regime militar, conversava. Com gente da oposição, conversava. Faz falta esse tipo de atitude hoje”, defende.
Questionado pelo apresentador Mário Kertész sobre a atitude de parte da Igreja Católica, que não queria dar visibilidade para a freira, ele respondeu que a situação é narrada no livro em um episódio em que Irmã Dulce precisou ser “contrabandeada” para o aeroporto de Salvador, à época da visita do papa João Paulo II à cidade.
“O papa esteve aqui entre 6 e 8 de julho de 1980. Irmã Dulce não estava na lista de religiosos que iam cumprimentar o papa quando ele chegou no aeroporto, que se chamava Dois de Julho até então. Ela foi praticamente ‘contrabandeada’ – isso a gente conta – para dentro do aeroporto, para cumprimentar o papa, pelo então general Gustavo Moraes do Rêgo Reis, que era o comandante da 6ª Região Militar”, diz o biógrafo.
Graciliano conta ainda que Irmã Dulce desagradou o cardeal Avelar Brandão Vilela depois de um artigo publicado em jornal, em que, por descuido, acabou escrevendo que Madre Teresa era a maior testemunha de amor ao próximo, o que teria contrariado apoiadores da freira baiana. O caso ocorreu em 1979, quando a religiosa naturalizada indiana visitou Salvador.
“O arcebispo ficou meses levando ‘pancada’ da imprensa baiana por causa dessa frase descuidada. Aquilo teve gosto amargo para ele e, por muito tempo, ele pensava que tinha dedo de Irmã Dulce por trás daquele negócio. Mas não tinha isso, porque Irmã Dulce não mandava recado pela imprensa”, disse o jornalista.
Relação com futebol
Graciliano conta que a relação de Dulce com futebol começou após a morte da mãe, quando o pai, o dentista Augusto Lopes Pontes, ficou viúvo, com os cinco filhos. Ele começou a levar as crianças para assistir futebol aos domingos, em uma época que o clube baiano Ipiranga era uma potência e tinha levado cinco vezes o campeonato baiano.
“O que aconteceu com Irmã Dulce é mais ou menos o que aconteceu com uma criança nos anos 80 vendo Zico jogar, que virou flamenguista. Irmã Dulce ficou louca por futebol. Futebol era parte da vida dela, dos sete anos até os 13 anos”, conta.
Já a caridade da freira foi despertada pela tia, Maria Madalena, que começou a levar a sobrinha para dar assistência aos mais pobres, no bairro de Brotas.
“Então, a primeira devoção de Irmã Dulce foi o futebol, até o surgimento da vocação religiosa dela. Uma grande personagem”, diz Graciliano.
Ela começou a considerar ser freira ainda adolescente, mas como ainda era muito nova, o pai estimulou que ela estudasse para ser professora.
“Quando se formou professora em 1932, o pai perguntou o que ela queria de presente. Ela respondeu que queria ser freira. Ele ‘joga a tolha’ e ela vai para o convento do Carmo, em São Cristóvão”, narra o biógrafo, sobre o começo da vida religiosa da freira.
Fonte: Metro 1