Bolsonaro não autoriza divulgação do relatório das Forças Armadas sobre urnas eletrônicas atestando lisura das eleições
TCU deu 15 dias pro Ministério da Defesa enviar cópia.
Foto: Sidney Falcão/Metropress
Por: Nardele Gomes
Depois de eleger-se seis vezes através das urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro colocou em xeque, de 2021 pra cá, a credibilidade dos equipamentos.
Em sua odisseia de ataque às urnas, Bolsonaro fez acusações sem provas, questionou a lisura do sistema eleitoral brasileiro, ameaçou suspender as eleições caso “algo anormal” acontecesse e levou o Congresso a discutir a volta do voto impresso. A proposta foi rechaçada pelos parlamentares e arquivada.
Após pressão de Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral convidou as Forças Armadas a integrarem a Comissão de Transparência das Eleições. Assim, a entidade poderia fiscalizar o processo eleitoral e produzir um relatório final, atendendo aos anseios do Presidente da República.
Assim foi feito. Em maio deste ano, as Forças Armadas enviaram ao TSE 88 questionamentos relacionados ao processo eleitoral. Todos foram devidamente respondidos.
Em junho, 15 recomendações de aprimoramento foram enviadas ao Tribunal, que rechaçou apenas uma, que feria a Lei Geral de Proteção de Dados. Entre as restantes, a maioria já estava em vigor ou não poderia ser implementada neste ciclo eleitoral por falta de tempo hábil, mas estão em estudo para as próximas eleições.
Ainda assim, o Ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, enviou ofício em agosto ao Ministro Luiz Edson Fachin, então presidente do TSE, afirmando que as Forças Armadas não se sentiam “devidamente prestigiadas”.
Pois bem. Na última segunda-feira (10 de outubro), o presidente Jair Bolsonaro esteve com o ministro Paulo Sérgio para tratar do resultado da fiscalização realizada pelas Forças Armadas durante o primeiro turno das eleições. Ocorre que o relatório não encontrou nenhuma irregularidade, de acordo com três militares (dois do alto comando) ouvidos pela jornalista Malu Gaspar, do Jornal O Globo.
Insatisfeito, Jair Bolsonaro não autorizou a divulgação dos resultados. Segundo ele, o trabalho estava incompleto, e o fato de não terem sido encontradas fraudes no primeiro turno não significava que não haveria problemas na segunda etapa.
Agora, depois de todas as acusações, mentiras e ameaças às eleições, de posse do relatório feito pelas Forças Armadas, o presidente deve à população a divulgação do relatório. Na última terça-feira, o Tribunal de Contas da União determinou que o Ministério da Defesa envie cópia do relatório, afirmando que a “segurança do Estado sairá fortalecida com a divulgação de tais informações”. O prazo regimental para atendimento ao pedido é de 15 dias.
Fonte: Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 14 de outubro de 2022 .