Condição de vítima pode ampliar chances eleitorais de Bolsonaro, dizem analistas
Foto: Reprodução TV Globo
Jair Bolsonaro deitado sobre maca de hospital, onde foi gravado dizendo que está melhor depois de cirurgia
O ataque sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na quinta-feira, 6, em Juiz de Fora (MG) deve resultar, segundo especialistas ouvidos pela Agência Estado, em um processo de vitimização do candidato que, a depender de sua condição de saúde, pode ajudá-lo no decorrer da campanha. E, certamente, deverá surtir impacto nas campanhas. Para José Álvaro Moisés, cientista político da USP, o deputado passará a ocupar, por motivos distintos, o mesmo posto de vítima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato. “Esse fato lamentável pode transformá-lo na segunda vítima dessa campanha, confundindo ainda mais o eleitorado e resultando em um impacto no resultado da eleição. As chances dele podem aumentar”, afirmou. Moisés ressaltou que o grau de tensão observado no cenário político nacional se intensificou nos últimos meses e já gerou outros episódios de violência. Ele citou o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), há quase seis meses, e os tiros que atingiram um ônibus da caravana de Lula pelo Paraná em abril. “A reintrodução da violência na política não favorece a democracia, não permite que o clima seja de reorganização do País. Pelo contrário, gera mais confusão na população.” Para Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da FGV-SP, o ataque deve fazer com que as campanhas reavaliem suas estratégias. “Isso deve ser veementemente repudiado. A hora é de serenidade e de se esperar os devidos esclarecimentos. Todos nós devemos refletir sobre esse lamentável episódio, e os candidatos devem cessar as agressões entre eles”, afirmou o analista. Desde o início da campanha na TV e no rádio, Bolsonaro entrou na mira dos adversários, que passaram a destacar justamente sua postura violenta como forma de afastar seus eleitores – ele lidera as pesquisas de intenção de voto com 22%, de acordo com a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. O presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, por exemplo, tem utilizado metade de seu tempo de propaganda para sugerir que o deputado agride mulheres, com imagens dele destratando uma deputada e uma jornalista, e que ele quer resolver os problemas do País na bala. Henrique Meirelles, candidato pelo MDB, também tem provocado Bolsonaro nas inserções a que tem direito de veicular no rádio e na TV. Mas, diferentemente da estratégia tucana, o emedebista tem atacado não o discurso violento do deputado, mas seu suposto desconhecimento sobre temas de economia. Com a agressão sofrida ontem por Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora, a expectativa é que tanto Alckmin quanto Meirelles possam repensar suas ações.
Fonte: Estadão