Exército virtual de Bolsonaro perde fôlego na defesa do governo
Passados 140 dias da posse, o cenário sofreu significativa transformação. Setores que apoiavam Bolsonaro se decepcionaram com seu desempenho no Executivo. “O governo não pode continuar errando na política como está fazendo hoje”, postou no Twitter o Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que se destacou no combate aos mandatos da petista Dilma Rousseff e fez campanha pelo capitão.
A mensagem foi divulgada no final da tarde da quarta-feira (15/05/2019), quando os protestos contra o bloqueio das verbas para a educação levaram multidões para as ruas do país e animaram a oposição. “O papo da balbúrdia ‘mitou’ para os bolsonaristas mais próximos, mas não convenceu quem é de fora da bolha”, registrou o MBL no Twitter.
Outro que pediu votos para Bolsonaro, o cantor Lobão também se distanciou do presidente. “Ele mostrou que não tem a menor capacidade intelectual e emocional para poder gerir o Brasil. É óbvio que o governo vai ruir”, afirmou o artista, também notório adversário dos governos do PT, em entrevista publicada pelo jornal nesta sexta-feira (17).
Desde o início da semana, os ventos sopraram contra o governo. Na segunda-feira (13), a imprensa divulgou que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra dos sigilos bancários do filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL), quando exerceu mandatos de deputado estadual, de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, familiares, ex-funcionários de seu gabinete e empresas ligadas aos dois.
A decisão da Justiça incomodou o capitão e ajudou a impulsionar as manifestações do dia 15. Ao mesmo tempo, as pressões elevaram a tensão da família. Nesse ambiente, o presidente e outro de seus filhos, Carlos Bolsonaro (PSL), vereador no Rio de Janeiro, deram declarações com em que abordaram a possibilidade de impeachment diante da dificuldade de equilibrar as contas do país.
O temor dos dois teve por base, principalmente, a resistência do Congresso em aprovar medidas que ajudem a resolver o problema fiscal. Em consequência, a hashtag impeachment subiu para os primeiros lugares das trending topics.
No campo em que os bolsonaristas há muito tempo são soberanos, a oposição começou a ganhar espaço. Esse foi um sintoma evidente da mudança de humor da população.
A volta das bandeiras vermelhas para as ruas forçou os governistas a ensaiar uma reação. Mas, por enquanto, ainda tímida. Na sexta-feira (17) começara a circular nas redes sociais dois convites para uma manifestação pró Bolsonaro no dia 26 de maio.
“Basta! Elegemos o presidente Bolsonaro e cansamos de ver os corruptos querendo sabotar”, diz o chamado virtual, escrito sobre uma foto do Congresso Nacional.
O outro convite prega o impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tofffoli e do ministro Gilmar Mendes. Também defende a aprovação do pacote anticrime enviado ao Congresso pelo governo.
Este panfleto é assinado pelo movimento Nas Ruas, mas a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), líder do grupo, nega a produção do convite. “Sei que há um evento neste sentido, mas o Nas Ruas não está nessa convocação”, afirmou a parlamentar ao Metrópoles.
Os autores dos convites não foram localizados pela reportagem. Mas a deputada estadual fluminense Alana Passos (PSL) confirmou ter iniciado uma mobilização para apoio a Bolsonaro no dia 26. “Sim, a mobilização está confirmada”, disse a parlamentar.
“Ingovernável”
No planejamento da deputada, o movimento a favor de Bolsonaro será nacional. Sem a participação dos grupos que ajudaram a colorir as ruas de verde-amarelo, Alana aposta no envolvimento de “populares” para organizar os atos em todo o país.
A necessidade de buscar apoio da população parece evidente neste momento do governo. O próprio Bolsonaro deixou isso claro ao longo da semana. Primeiro, quando abordou a possibilidade de impeachment.
Depois, na sexta-feira (17), o presidente divulgou pelo WhatsApp um texto apócrifo que diz que o Brasil é “ingovernável”. Se ele pensa assim, de fato, seus seguidores têm razões para tentar retomar as mobilizações que o levaram ao Palácio do Planalto.
Fonte: Metrópoles