Festival de Gramado tem protesto contra Bolsonaro e tributo a Marielle
Tentando conter as lágrimas, Emiliano Cunha, diretor de Raia 4, exibido neste sábado (17) no 47º Festival de Gramado, afirmou que seu filme só foi feito graças a políticas de fomento da Ancine. Segundo o cineasta, o longa gerou 400 empregos, diretos ou indiretos, além de impostos e receitas. Da plateia, vinham gritos de “viva o cinema brasileiro!” e “fora, Bolsonaro!”.
Comitiva do longa-metragem Bacurau, que abriu o Festival de Gramado 2019: diretor pediu respeito a Bolsonaro, e Sônia Braga lembrou Marielle
O alvo do presidente são obras sobre assuntos que o desagradam – na quinta-feira, véspera do início de Gramado, ele citou produções que não deveriam ser aprovadas pelo órgão, a maioria com temática LGBT. “Alguns desses projetos que Bolsonaro quer censurar são de amigos meus. Nosso filme existe hoje, mas talvez não pudesse existir em 2020”, afirmou um membro da equipe do curta-metragem Marie, de Leo Tabosa, sobre uma mulher transexual que retorna ao sertão para enterrar seu pai.
A equipe do curta, projetado também na noite deste sábado, disse que vai se inspirar em Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, para resistir contra a censura. Longa de abertura em Gramado, Bacurau – que venceu o prêmio da crítica em Cannes e neste fim de semana levou três prêmios, incluindo o de melhor filme , no Festival de Cine de Lima, no Peru – retrata uma comunidade do sertão pernambucano invadida por atiradores estrangeiros e sádicos. “Somos profissionais da cultura e exigimos respeito”, afirmou Mendonça Filho no Palácio dos Festivais, onde são exibidos os filmes.
A plateia da sessão de Bacurau foi comportada (uma reação “grave, corretamente codificada”, avaliou o diretor mais tarde), mas irrompeu em gritos e aplausos nas cenas em que os moradores contra-atacam. “É resistência, não vingança”, corrigiu Juliano Dornelles ao ser questionado se o filme falava sobre “revanche”. No encontro com a imprensa, Sonia Braga, uma das atrizes do filme, dedicou sua personagem a Marielle Franco e perguntou quem a matou.
Com estreia marcada para 29 de agosto, Bacurau é encerrado com uma mensagem afirmando que a produção deu emprego a 800 pessoas. É o mesmo número de O Homem Cordial, de Iberê Carvalho, que abriu a mostra competitiva na sexta. A quantidade de postos de trabalho gerados pelos filmes vem sendo reforçada pelos cineastas em Gramado para mostrar que o audiovisual é um setor importante para a economia.
Estrelado por Paulo Miklos, O Homem Cordial acompanha a noite de um homem linchado pela parcela conservadora da sociedade após ele ser apontado como responsável pela morte de um policial. O rapper Thaíde, que atua no filme, resumiu o sentimento do primeiro fim de semana do Festival de Gramado (que vai até dia 24): “Um recado para quem quer podar o cinema brasileiro: enquanto houver cineastas com coragem, vocês estarão perdidos”.
Com informações do O Globo