Governo federal prepara contrato inédito para aumentar emprego de jovens
Foto: Nilton Fukuda/Estadão
O governo federal lançará um modelo de contrato inédito no país para tentar aumentar a chance de emprego de jovens de baixa renda. Na iniciativa, chamada de contrato de impacto social (CIS), uma organização privada será responsável por qualificar mil jovens de forma a que eles consigam trabalho e se mantenham nas vagas por pelo menos quatro meses. A entidade só será paga se um avaliador independente comprovar que as metas foram cumpridas. O objetivo é aumentar a efetividade das políticas públicas, com menos custo para o governo. Comum em vários países, como Reino Unido, Estados Unidos e Israel, o modelo não deslanchou nas duas vezes em que foi tentado no Brasil.
Na última gestão de Geraldo Alckmin, o projeto de um CIS para reduzir a evasão no ensino médio em São Paulo foi abandonado após pressão dos sindicatos, que o consideravam uma forma de privatização da educação. No Ceará, contrato para reduzir a ocupação desnecessária de leitos hospitalares -transferindo doentes crônicos para atendimento domiciliar- aguarda licitação. Segundo dados do Insper Metricis, que pesquisa desenho, execução e avaliação de programas de impacto social, 330 contratos foram lançados ou estão em fase de elaboração no mundo desde 2009. Do total, 18% tiveram objetivo semelhante ao do Ministério de Economia de Bolsonaro: aumento da empregabilidade.
A consulta pública, encerrada neste mês, estipulava um teto de R$ 4 milhões. Mas o custo pode ser menor, já que o vencedor -que precisará comprovar ao menos cinco anos de experiência em formação profissional- será o que apresentar menor preço. Com o pagamento atrelado a resultados, “só as organizações comprometidas, que têm certeza de que seu programa é muito bom, vão entrar”, diz Lycia Silva e Lima, coordenadora do FGV EESP Clear, que integra uma rede global voltada ao aperfeiçoamento de políticas públicas. Mas bons candidatos podem ser desencorajados pelo risco mais alto do modelo proposto, segundo Bruno Pantojo, especialista da Sitawi Finanças do Bem, que desenvolve soluções de financiamento para CIS. “É louvável o arrojo do governo de procurar soluções inovadoras, mas o edital está deixando de aproveitar aprendizados das experiências internacionais”, diz.
Os três pontos que elevam o risco, segundo o analista, são a forma “tudo ou nada” do pagamento, a ausência de identificação prévia do público alvo e a falta de definição clara do papel do investidor. Para medir o resultado, após o curso, serão monitorados por 240 dias tanto os participantes quanto um grupo de faixa etária e características socioeconômicas semelhantes que tenha se candidatado ao programa, mas ficado de fora do sorteio por restrição no número de vagas. Será considerado empregado quem mantiver carteira assinada por ao menos 120 dias consecutivos, na mesma empresa, com carga horária mínima de 40 horas semanais. A entidade contratada só receberá o pagamento se o resultado dos jovens participantes for no mínimo 30% superior ao do grupo que não participou da qualificação (chamado grupo controle). Sérgio Lazzarini, fundador do Insper Metricis, diz que a vantagem desse tipo de avaliação é evitar que o governo pague por resultados que a contratada não gerou.
Folhapress