Namorada de PM revela detalhes sobre o crime. “Não discutiram antes”
Ao Metrópoles, Aline Rabello negou ter havido desentendimento anterior entre o namorado e o agente da Polícia Civil autor dos disparos
Aline e Herison namoravam há três anos e moravam juntos há um ano, em Ceilândia. Ela disse lembrar com clareza os momentos que antecederam a morte do companheiro. Em entrevista ao Metrópoles, a administradora negou que o militar tenha se desentendido anteriormente com o agente da Polícia Civil (PCDF).
Dentro da casa noturna haviam pelo menos cinco agentes de segurança armados. Recomendação expedida em março deste ano pelo Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), veda o uso de bebida alcoólica por parte dos agentes de segurança nas casas de diversão pública e congêneres, quando tiverem a entrada franqueada em razão do serviço.
Após a repercussão do assassinato do PM, a Secretaria de Segurança Pública informou que pretende se reunir com o MP para buscar alternativas relacionadas ao porte de armas de policiais em ambientes fechados, com aglomerações de pessoas e consumo de bebidas.
Em entrevista ao Metrópoles, o diretor da Polícia Civil, Robson Cândido, também disse que o porte de arma durante a folga será discutido nos cursos de formação e progressão na Academia de Polícia. “A maioria dos incidentes é durante a folga. Estamos sensíveis e revendo os protocolos nesse sentido”, assinalou.
O momento do assassinato foi registrado por câmeras de segurança do estabelecimento (veja abaixo). Nas imagens, é possível ver o policial militar passando em frente ao agente. Eles se esbarram, o policial civil saca a arma. O PM chega a pegar a pistola, mas é alvejado antes. Foram quatro tiros: dois no tórax e um no abdômen de Herison; outro na perna de Andressani de Oliveira, que estava próximo ao local.
As cenas também mostram que, após os disparos, Aline tentou socorrer o namorado. “Foi desesperador. Não consegui sequer tirar ele do meio da briga, foi tudo muito rápido. Quando vi, ele já estava caído no chão, perdendo muito sangue. O socorro também demorou a chegar, levou exatos 30 minutos. Acho que isso contribuiu para a morte”, disse ao Metrópoles.
Aline disse que analisou as imagens do circuito interno do estabelecimento, do momento em que chegaram até a hora do assassinato. A casa tem capacidade para cerca de 1,5 mil pessoas e estava lotada. Segundo a jovem, em momento algum os dois policiais se encontraram durante a madrugada.
“Diferentemente do que algumas testemunhas disseram, ninguém mexeu comigo. Não discutiram antes. Ele não fez nada e, mesmo se tivesse feito, nada justifica ter dado três tiros à queima-roupa em um local fechado. Foi um ato covarde”, acrescentou.
“Alta periculosidade”
Na manhã desta terça-feira (16/04/19), a juíza do Tribunal do Júri de Águas Claras decidiu manter preso o agente da Polícia Civil Péricles Marques Portela Júnior. Na decisão, a magistrada Flávia Pinheiro Brandão Oliveira ressaltou que “o fato é grave e a prisão se mostra necessária”.
De acordo com a juíza, “a análise dos autos revela a elevada periculosidade social do autuado, tendo em vista que, após um simples esbarrão em um estabelecimento comercial que estava muito cheio, teria sacado sua arma de fogo e efetuado quatro disparos em desfavor da vítima, deixando-a totalmente sem possibilidade de reação”.
Um agravante, segundo a juíza, é o fato de os disparos terem sido efetuados dentro da boate lotada. “Ressalte-se que a atitude do autuado colocou em risco a vida de milhares de pessoas que estavam no local em busca de diversão”, assinalou. Além disso, no entendimento dela, o fato de Péricles ser policial civil “torna ainda mais reprovável a sua conduta, uma vez que deveria zelar pela garantia da segurança das pessoas e, no caso, de forma diametralmente oposta, criou a situação de absoluta insegurança no local”.
Namorada de PM revela detalhes sobre o crime. “Não discutiram antes”
Michael Melo/Metrópoles
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Velório
Nesta terça (16/04/19), colegas da PMDF prestaram as últimas homenagens a Herison, que era lotado no 10º Batalhão de Polícia Militar (Ceilândia). O velório começou às 8h, no Templo Militar Evangélico, no Setor Militar Urbano, que ficou lotado. Aline estava inconsolável. “Volta para casa, meu amor”, pediu, aos prantos, durante o sepultamento no Cemitério Campo da Esperança.
Por volta de 9h20, a equipe do Grupo Tático Operacional (Gtop) chegou ao velório em 10 viaturas. Os familiares, muito abalados, não se manifestaram. O pai do PM chegou a passar mal e precisou de auxílio. Os bombeiros conduziram a mãe da vítima ao Cemitério Campo da Esperança.
Colega do tenente, o soldado Miguel Pereira diz que o sentimento é de revolta e dor. “Era algo que poderia ter sido evitado”, destacou. Herison deixa um filho de 16 anos. “Era uma pessoa maravilhosa, sensacional. Onde entrava, alegrava o ambiente. Ajudava a todos, independentemente da posição. Não media esforços”, ressaltou Pereira.
O soldado dirigia a viatura do colega durante o serviço, convivendo constantemente com o tenente. Ele disse que a “ficha ainda não caiu”. Segundo Pereira, é um momento muito difícil para todos da equipe. “Com Herison, eu aprendi principalmente a humildade”, declarou.
“Estamos sepultando um herói. Alguém que durante anos entregou sua vida para proteger uma sociedade que, muitas vezes, não nos reconhece. Quando um herói tomba, ele não pode ficar no anonimato”, declarou um policial militar, responsável por fazer a última oração antes do sepultamento. Uma bandeira do Gtop foi posicionada sobre o caixão, que foi acompanhado por um comboio de viaturas até o cemitério.
A comandante da PMDF, coronel Sheyla Sampaio, foi ao enterro. Disse que encara o caso como uma “fatalidade” e que espera por “justiça”. Segundo ela, o diretor-geral da PCDF, Robson Cândido, foi ao sepultamento, no qual se solidarizou com a corporação. “Desejou ‘meus sentimentos’”, ressaltou.
Herison entrou na PMDF em 2012 e concluiu o Curso de Formação de Oficiais três anos depois. Ainda segundo a corporação, o tenente foi homenageado na Câmara dos Deputados, em 14 de março de 2019, por ter apreendido mais de 50 armas de fogo e recuperado 20 veículos, produtos de roubos e furtos, em seis anos de profissão.
O crime
Um esbarrão teria motivado os disparos que tiraram a vida de Herison Oliveira Bezerra. No entanto, algumas testemunhas relataram que o agente mexeu com a mulher do militar. O tenente teria flagrado e repreendido a atitude do policial, o que foi desmentido pela namorada.
Os disparos foram feitos com uma arma calibre .40 pelo agente Péricles Marques Portela. O oficial da PMDF chegou a ser levado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas não resistiu aos ferimentos. Morreu por volta das 4h na unidade de saúde.
Chamados ao local, bombeiros informaram que o tenente foi levado inconsciente e com hemorragia grave ao HRT, onde acabou falecendo. A corporação disse, ainda, que a outra vítima – identificada como Andressani de Oliveira Sales, 39 – levou um tiro de raspão na coxa.
O policial civil foi preso, levado para a 21ª DP e depois encaminhado à Corregedoria da corporação. Segundo a PCDF, Péricles Marques Portela Junior foi autuado em flagrante por homicídio e lesão corporal.
Fonte: METRÓPOLES