Partidos batem cabeça na proporcional enquanto políticos tentam salvar a própria pele
por Fernando Duarte
Passadas as convenções dos principais grupos políticos da Bahia, a minha expectativa era de que este texto falasse sobre as coligações para as chapas proporcionais, que elegem deputados federais e estaduais. Depois que as novelas para as majoritárias pareceram resolvidas, a discussão sobre chapões e chapinhas seria café pequeno. Ledo engano. Desde os últimos dias da semana passada, governo e oposição estão em polvorosa para tentar chegar a um consenso nessa questão. Com um único objetivo: salvar a pele dos parlamentares com mandato.
No grupo da oposição, o tema ganhou contornos mais problemáticos. Três partidos decidiram apenas apoiar a candidatura de José Ronaldo (DEM) e formar uma coligação proporcional com o nanico PRTB, que postula o Palácio de Ondina com o ex-prefeito de Salvador, João Henrique. Ali nasceu uma semente de discórdia que se tornou uma dor de cabeça grande apenas nesta segunda-feira (6), quando PTB e PSC, apoiadores em primeiro grau do candidato do DEM, também desistiram de compor o chapão. Como a majoritária contemplou a indicação de Irmão Lázaro (PSC) ao Senado, se esperava reciprocidade dos social-cristãos para ajudar a eleger os dinossauros do DEM. Sem acordo.
O próprio Democratas foi um dos primeiros a retesar a situação. Nos bastidores, reclamou da postura do PSC e “pediu a cabeça” de Lázaro. Porém, não é vantagem criar um novo desgaste com a candidatura do cantor ao Senado, depois de tanta celeuma para indicá-lo ao posto. Além do que Lázaro é considerado um dos nomes mais competitivos do grupo e sangrar a própria carne num processo com nomes já desidratados politicamente é uma jogada difícil de bancar.
O foco tanto dos “rebeldes”, que deixaram os acordos proporcionais, quanto dos “carrascos”, que ameaçaram retaliação, é apenas um: salvar a própria pele. Sem um candidato puxador de votos na candidatura ao governo, qualquer esforço para tentar a reeleição ou para garantir uma cadeira na Câmara dos Deputados ou na Assembleia Legislativa é válido e, mesmo que interajam a contragosto ao longo da campanha, qualquer um dos atores políticos sabe que na hora do aperto é “cada um por si”.
BASE DE RUI
Não é apenas a oposição que sofre para achar um denominador comum com relação às chapas proporcionais. Na base aliada do governador Rui Costa (PT) há também um ruído recorrente e, segundo o que veio a público, mais preponderante na chapa para deputados estaduais. Os dois maiores partidos da Assembleia, PT e PSD, bateram cabeça e não se entenderam facilmente sobre a melhor estratégia para a disputa.
O PT sabe que, com a capilaridade dos socialdemocratas, o risco de perder a maior bancada no estado é grande. Por isso, aos 45 minutos do segundo tempo, pediu que se rediscutisse a formação de um chapão proporcional. O PSD não aceitou de bom grado e só ontem confirmaram um acordo. Os grandes partidos sairão juntos.
Como se não bastasse esse princípio de incêndio, cujo esforço para debelar ainda não surtiu o efeito esperado pelo governador, Avante e Pros resolveram sair numa chapa em separado para deputado federal e criaram outro ponto de tensão no grupo. Tal qual a oposição, salvar a pele é imprescindível.
Até o dia 15 de agosto, prazo final para os registros das candidaturas, as negociações de bastidores para as composições proporcionais ocuparão os atores da cena. A maioria dos partidos optou por delegar às executivas estaduais o dever de fechar os acordos definitivos quanto a essa questão e, até lá, sobrarão socos e pontapés – figurativos, espero – com o propósito básico de sobreviver. E a briga deve ser feia. Afinal, como sabemos, não existe altruísmo na política.
Fonte:Bahia Noticias