PCC mapeou Distrito Federal para se instalar em áreas nobres: Veja
Escolha por regiões como lagos Sul e Norte e Jardim Botânico levou em consideração menor policiamento na área e proximidade com presídio
RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
As informações foram levantadas pela Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac) durante investigação que sucedeu a Operação Guardiã 61. De acordo com os investigadores, os membros do PCC já haviam mapeado residências nos lagos Sul e Norte, além do Jardim Botânico.
A localização escolhida pelos criminosos se deve, também, à proximidade das regiões administrativas ao Presídio Federal de Brasília, que atualmente abriga o líder do PCC: Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola.
Além da curta distância entre os imóveis e a unidade prisional, o alto poder aquisitivo das regiões foi outro ponto positivo observado pelos suspeitos, uma vez que o policiamento tende a ser maior em regiões consideradas mais perigosas.
“A escolha dessas casas de apoio se deu em função da proximidade com o presídio. O Lago Sul e o Lago Norte foram escolhidos não por acaso, mas para não gerar qualquer tipo de suspeita”, explicou o delegado-chefe da Difac, Guilherme Sousa Melo.
As residências seriam locadas em nome de advogados ligados ao PCC, que também foram alvo da operação deflagrada na última terça-feira (07/01/2020).
“O poder econômico dessa facção é muito grande e permite selecionar esse tipo de endereço. Então, esse mapeamento e essa seletividade são dados preocupantes, que foram observados nessa investigação, que podem servir para nortear outra. Nós investigamos uma casa de apoio, em que o período de aluguel durou quatro meses”, continuou o delegado.
Deflagrada na manhã de terça-feira, a megaoperação da PCDF mostrou que a célula do PCC no DF ameaçou policiais e juízes. Investigadores observaram que informações pessoais de quem trabalhou na ação foram divulgadas.
Com a transferência da alta cúpula do PCC para Brasília, a Polícia Civil intensificou as investigações para coibir a instalação de células criminosas na capital.
Inicialmente, os investigadores tiveram acesso a bilhetes com ameaças a uma magistrada do DF. “Isso comprova a existência da facção no Distrito Federal e, inclusive, a presença dos chamados “gravatas”: advogados responsáveis por transmitir as ordens de dentro para fora dos presídios”, explicitou o delegado-chefe da Difac (divisão da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), Guilherme Sousa Melo.
Com o decorrer das apurações, até mesmo os investigadores entraram na mira dos criminosos. Delegados envolvidos na operação tiveram fotos divulgadas entre os faccionados e receberam ameaças. Foram cumpridos 14 mandados de prisão preventiva, 10 de busca e apreensão, além da colocação de tornozeleira eletrônica em um dos alvos, conforme ordens expedidas pela da 5ª Vara Criminal do DF.
Segundo os investigadores, a célula da organização criminosa tinha ao menos 30 integrantes e atuava praticando crimes como roubos e tráfico de drogas. O grupo, composto por advogados, presidiários e egressos do sistema prisional, se dividia em núcleos específicos de atuação.
Plano de fuga
Em 20 de dezembro de 2019, o Metrópoles revelou, em primeira mão, que os integrantes da organização planejam colocar em prática o plano de resgate de Marcola. A Operação Guardiã 61, inclusive, foi retardada por causa dessa ação do grupo criminoso.
Condenado a mais de 300 anos de prisão, Marcola cumpre pena no Presídio Federal de Brasília. A unidade chegou a receber reforço de tropas do Exército. As informações sobre o plano de resgate partiram de São Paulo. O estado é berço da facção criminosa. Marcola foi transferido para a capital federal em março de 2019 sob forte aparato policial.
Há indícios de que o suposto resgate estaria pago e seria feito pelo traficante internacional Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho. Ele é um dos principais nomes do PCC que estão soltos e atuam nas ruas.