Peças sagradas do candomblé são roubadas em quilombo no sul da Bahia

Coleção de peças de Orixás foi resultado de 50 anos de pesquisa em artesanato e cultura afro-brasileira.

Peças sagradas do candomblé são roubadas em quilombo no sul da Bahia

Foto: Divulgação

O mestre de saberes populares Jorge Rasta utilizou as redes sociais na última semana para denunciar um furto de peças sagradas, no Quilombo D’Oiti, em Itacaré. Foram roubadas dez obras de Orixás, pensadas e confeccionadas ao longo de mais de dez anos pelo pai pequeno do terreiro.

Jorge nasceu nas palafitas de Alagados, em Salvador, e diz que sempre teve contato com os reflexos do luxo e da riqueza no lixo. Filho de Xangô, senhor da justiça e da guerra, mas também senhor das riquezas, passou anos retirando fios de cobre de sucatas de eletrodomésticos até transformá-los em obras de arte.

O resultado foram 14 peças de Orixás, processo também de 50 anos de pesquisa em artesanato e na cultura afro-brasileira, das quais dez foram roubadas. As peças, de 12 a 40 centímetros, estavam em curadoria desde 2020 para exposições em Salvador, Cachoeira e Itacaré.

“Minha opção pelo uso do metal era justamente para fechar o ciclo de um mineral que é explorado da terra, e a gente vê todo o proveito que essas peças têm na produção de tecnologia, que depois é descartado ao lixo. Justamente para poder mostrar que a riqueza oriunda dos orixás pode voltar a eles”, conta o mestre.

As obras foram furtadas entre os dias 10 de janeiro e 24 de fevereiro, quando os quilombolas precisaram sair da fazenda devido à inundação provocada pelas chuvas no sul da Bahia em dezembro.

“Quando retornamos para as atividades, percebemos que alguém invadiu nossa escola e roubou dez peças das 14. A pessoa veio especificamente para esse furto porque havia outros equipamentos de valor e só eles foram subtraídos”, conta o mestre Jorge.

Os quatro orixás que ficaram foram os dois Ibejis, Ogun e Exu — “os defensores”.

“Espero que eu reveja as peças, nunca vou desistir disso. Elas foram registradas fotograficamente pela curadoria, eu poderia reproduzir algumas, mas nunca reproduziria elas com a mesma originalidade. Foi o trabalho de uma vida”, diz Jorge.

Fonte: Metro 1

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