A mulher entra em pânico quando seu marido acusa que não mais sente desejo por ela. Tesão? Só pela mulher ao lado. Elas procuram minimizar alegando tratar-se de uma crise. Arrancam até do companheiro e amigo de longa data a confissão de que os sentimentos reais não se apagam assim com tanta facilidade. O que faz elas se perguntarem: que sentimento é esse? E não obtêm resposta.
O homem jamais confessará por livre e espontânea vontade que não sente mais atração ou desejo por um caso antigo. Por se julgar um cavalheiro e, portanto, não querer constrangê-la e condená-la ao ostracismo. Prefere o cinismo de esconder que está em outra. Quando não o faz e se revela, é porque está perdidamente apaixonado e encontrou o grande amor de sua vida – assim falou Zaratustra.
Embora, na verdade, Zaratustra tenha dito que o homem deve ser superado. Só não mencionou que é para não ficar superado pelas mulheres nessa competição desenfreada em que ambos se lançaram. Todavia, o homem prefere encarar apenas pelo lado de que deve procurar se superar, como se fora um atleta em meio a uma disputa. E, para tanto, não perder o interesse pelo amor significa tesão pela vida e o desejo em alta. Propenso a construir uma relação baseada em motivos sólidos. Não necessariamente apoiada em sexo. Para se posicionar do lado do bem e posar de simpático e aberto.
Lançando as mulheres aos crocodilos se insistirem na posição de mal-amadas, lutando por preservar uma relação em que o desejo não mais acende a luz nem desperta o gigante adormecido, pautadas por sentimentos antigos e tradicionais, aos quais ele até se rende e reconhece, mas não o suficiente para levantar o ânimo e redobrar as esperanças.
O homem é pragmático e não sentirá a menor culpa em namorar ou romancear com a outra, mesmo que não pressinta um futuro promissor. Em vista de sem tesão não haver solução! Ele não conjetura se há amor suficiente para enveredar no calor da intimidade, pois que se dane o mundo ao se entregar para o prazer. A ideia é saciar o bicho e depois ver como é que fica. Mas ele joga uma cartada alta quando assim aposta, como se estivesse num cassino. Pode não se tratar apenas de uma sexualidade que o deixe, mais que outras vezes, prostrado de tanta satisfação. Se rolar uma coisa fuderoso, não terá o menor escrúpulo em constituir sociedade com quem não titubeou em apresentar suas credenciais e mostrou-se toda, virando sua cabeça.
Pois configura-se um pesadelo o homem perder o tesão pela mulher com quem divide o lençol. Se deixar como está, ele se considera acabado, inativo, desarmado, sem uso, de pouca validade, destituído de propósito, sem inspiração. A um passo de passar recibo no atestado de óbito.

Fonte: J du G