Redes sociais podem afetar o bem-estar e a saúde mental
O ciberbullying está nas plataformas e pode levar ao sofrimento psicológico e ao isolamento. Por isso, é preciso estar atento a sinais de depressão e ansiedade
Parece um ambiente seguro. Afinal, fica dentro de casa, onde pais e familiares podem se manter alertas sobre qualquer movimentação. Só que muitas vezes é um vale sombrio repleto de solidão. Uma solidão acompanhada de muito ciberbullying.
Este é o cenário da internet hoje para muitos. Em julho, houve um caso muito simbólico: a blogueira Alinne Araújo, que falava justamente sobre sua própria depressão nas redes, cometeu suicídio um dia após casar-se consigo mesma — ela decidiu seguir com o casamento mesmo depois da desistência do noivo, um dia antes da cerimônia.
Todos achavam que ela estava bem: os mais próximos interpretaram a atitude como um sinal de que ela havia superado a situação, mas os seguidores não perdoaram e o ciberbullying deu o tom no perfil de Alinne durante horas. Muitos diziam que a blogueira estava agindo daquela forma (casando-se consigo mesma) apenas para chamar a atenção. Ela, então, sucumbiu.
Crianças, adolescentes ou adultos, ninguém está livre de ter sua saúde mental abalada. Nas redes sociais, isso pode ser ainda mais perigoso: o contato com os haters pode levar ao sofrimento psicológico. Um estudo da Royal Society for Public Health, conduzido em 2017, aponta o Instagram como a pior plataforma para a saúde mental dos usuários — recentemente, a rede foi a primeira a ocultar as curtidas nas publicações, como forma de preservar os usuários.
Outros dados parecem confirmar: a quantidade de crianças de 10 a 14 anos que morreram por suicídio aumentou 65% entre 2000 e 2015, segundo um estudo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso Brasil) com base em dados do Ministério da Saúde. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, o crescimento foi de 45% no mesmo período. Como esses casos são, em geral, subnotificados, os números podem ser, infelizmente, ainda maiores.
Contato humano
Se a isso for acrescentada a rejeição, especialmente em um ambiente tóxico (as redes sociais muitas vezes têm esse viés, especialmente em comentários maldosos e pouco gentis), o indivíduo pode desenvolver baixa autoestima e passar a sofrer em silêncio. Esses contatos nocivos online, então, minam sua autoconfiança e o fazem se retrair e se isolar cada vez mais.
É um ciclo vicioso, especialmente porque uma das características da geração atual é o uso constante de gadgets. Muitos jovens não têm nem a habilidade de falar com pessoas, pois só se relacionam com eletrônicos. “Viver apenas o mundo digital é problemático. O indivíduo deixa de ter contatos reais: não conversa com amigos pessoalmente, não joga bola, não faz atividades em que há proximidade humana”, explica a psicóloga Priscila Gasparini Fernandes.
Segundo Priscila, o isolamento voluntário deprime o indivíduo e pode levá-lo a ter uma fobia social. “Antes, a depressão era associada ao quarto escuro, em que o paciente se trancava. Hoje, o doente busca a internet para evitar contatos reais”, destaca. “Ali, ele se sente mais confortável e, como não há censura, pode chegar a espaços pouco saudáveis e encontrar incentivo para o suicídio. Por isso, é importante que amigos e familiares estejam atentos.”
A psicóloga faz um alerta: é importante que as pessoas se interessem umas pelas outras. Em casa, por exemplo, o diálogo deve ser prioridade. É fundamental que os pais saibam por onde seus filhos andam online. “A conversa é o mais importante. Impor limites e regras é parte do processo, mas conhecer o filho é essencial.” Só assim, ela pontua, os pais vão saber se seus filhos são tímidos ou se estão sofrendo.
A importância da prevenção é cada vez mais clara e a informação é essencial nesse contexto. Neste setembro (amarelo), duas iniciativas do Instituto Vita Alere, com apoio da SaferNet Brasil, do Google e da Unicef, pretendem servir de auxílio para pais, mães, educadores e adolescentes: a ideia é falar abertamente sobre sofrimento mental, suicídio e uso seguro e responsável da internet.
Intitulada #éprecisofalar, a campanha tem cartilhas informativas sobre esses temas. Os materiais, disponíveis para download gratuito, têm dicas sobre fatores de risco, prevenção e formas de denunciar conteúdos impróprios nas redes sociais. Em 2018, o Vita Alere fez a campanha #euestou, sobre prevenção de suicídio para jovens, que alcançou 15 milhões de pessoas. Agora, mais uma série de vídeos do instituto aborda o assunto.
O YouTube, por sua vez, criou uma websérie para discutir bem-estar e saúde mental no contexto da internet. Composta por seis episódios, chama-se “Depressão não é frescura” e busca, em linguagem simples, informar e conscientizar sobre as causas e os efeitos da depressão a partir de um melhor entendimento sobre a doença.
Dieta digital
Todos devem se policiar a respeito do uso excessivo das redes sociais. Uma das opções para avaliar a qualidade do relacionamento com a tecnologia — e, mais notadamente, com essas plataformas — é calcular o Índice de Massa Virtual.
O conceito, criado pelo jornalista canadense Daniel Sieberg, autor de “Dieta Digital”, pode ajudar a descobrir quando se está passando dos limites. Para saber o seu, responda às perguntas a seguir e multiplique a quantidade pelo valor indicado em cada item.
- Quantos smartphones você tem? x 3
- De quantas redes sociais você faz parte? x 4
- Quantos laptops você tem? x 1
- Quantos dispositivos tipos tablet você possui? x 2
- Quantos endereços de e-mail você tem? x 2
- Quantos serviços de mensagem de texto e/ou chat você usa? x 5
- De quantos jogos do tipo RPG (jogo de interpretação de personagem) você participa? x 7
- Quantos computadores de mesa você tem? x 1
- Quantas câmeras digitais você possui? x 1
- Quantos outros eletrônicos que precisam de um carregador você usa? x 1
- Em quantos blogs você escreve ou comenta com frequência? x 2
Agora, some todos os resultados e compare com as opções a seguir:
24 pontos ou menos
Você está dentro da média considerada adequada. O uso que você faz da internet e das redes sociais é saudável.
De 25 a 35 pontos
Fique atento! Ser mais comedido no uso das ferramentas virtuais pode ajudá-lo a viver melhor.
36 pontos ou mais
Você precisa de uma dieta virtual. Controlar o uso da internet e das redes sociais vai lhe trazer benefícios.
Fonte: Olhar digital