Veja tudo o que se sabe até o momento sobre as queimadas na Amazônia

Presidente francês, Emmanuel Macron, convoca o G7, as maiores economias mundiais, a discutir o assunto. Bolsonaro reage: “Ganhos pessoais”

Daniel Beltrá/Greenpeace/ArquivoDANIEL BELTRÁ/GREENPEACE/ARQUIVO

Nessa quinta-feira (22/08/2019), o Brasil ganhou destaque nas primeiras páginas de várias publicações internacionais. Longe de nos encher de orgulho, o motivo não é dos mais nobres: trata-se da degradação do meio ambiente, notadamente na Amazônia, devido a desmatamentos e queimadas. Enquanto personalidades de todo o mundo criticam a política ambientalista do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o Planalto rebate e afirma que o que está em jogo são as riquezas da floresta amazônica. O impasse prossegue e os incêndios avançam sobre a fauna e a flora da região. A Amazônia arde.

A reação mais contundente às queimadas na região partiu do presidente da França, Emmanuel Macron. Ele afirmou que a cúpula do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, as maiores economias do planeta – precisa discutir os incêndios. O encontro do grupo está previsto para este fim de semana.

No Twitter, Bolsonaro contra-atacou e afirmou que o líder francês usou de tom sensacionalista e fotos falsas para “ganhos políticos pessoais, sem contribuir para a resolução do problema”.

De fato, o presidente francês postou uma imagem antiga com a legenda “Nossa casa queima. Literalmente. A Amazônia, o pulmão de nosso planeta, que produz 20% de nosso oxigênio, arde em chamas. É uma crise internacional”. Não há dúvida de que a crise é internacional. E ela vem se arrastando há algum tempo.

Recrudescimento
A crise estampou as manchetes das grandes mídias estrangeiras, como o francês El País, o britânico The Guardian e o norte-americano The Washington Post. Eles citam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o recrudescimento do desmatamento.

De 1º de janeiro até o o final de julho, segundo o Inpe, foram registrados 71.497 focos de desmatamento em todo o país, alta de 82% em relação aos 39.194 focos registrados no mesmo período do ano passado.

Já a presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa, também disse estar preocupada com os incêndios pelo mundo e cobrou ações urgentes. María Fernanda falou ainda que as florestas são cruciais para enfrentarmos as mudanças climáticas.

De quem é a culpa?
Nessa quarta-feira (21/08/2019), Bolsonaro apressou-se em culpar as Organizações Não-Governamentais (ONGs) pelas queimadas na Amazônia, em reação ao fato de terem perdido recursos do governo federal. Esses incêndios teriam o objetivo de expor o governo perante a comunidade mundial.

Nessa quinta, ao rebater as críticas de que teria acusado as ONGs mesmo sem provas, o presidente disse ser difícil responsabilizar alguém que não for pego em flagrante. “Quer que eu culpe os índios? Os marcianos? Pessoal de ONG perdeu a teta dele e tem indícios fortes, mas não se tem prova disso se não pegar em flagrante”, ressaltou.

Dia virou noite
Provavelmente devido às queimadas, um fenômeno inusitado fez as redes sociais entraram em polvorosa na segunda-feira (19/08/2019), quando, às 15h, o céu escureceu totalmente em São Paulo, o que causou a impressão de que a tarde tivesse virado noite na cidade.

Diante das especulações de que a escuridão seria resultado das queimadas da Amazônia, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Inpe descartaram tal hipótese.

A ideia, porém, ganhou força depois que uma imagem do satélite Aqua, da Nasa, publicada nessa quarta, deu a dimensão da magnitude do problema causado por queimadas criminosas e fora de controle na região amazônica. A foto, feita pela agência espacial norte-americana na terça-feira (20/08/2019), mostra uma gigantesca coluna de fumaça cinzenta sobre vários estados brasileiros.

A Nasa destacou que, embora seja comum a ocorrência de incêndios no país nesta época do ano, devido às altas temperaturas e baixa umidade, o número recorde de incêndios é preocupante.

Tsunami de fumaça
A fumaça vem de Rondônia, do Acre – que declarou estado de alerta ambiental – e do Amazonas, que decretou situação de emergência na região sul e na zona metropolitana de Manaus por causa do fogo.

O corredor de fumaça desce pela América do Sul desde a semana passada, atingindo o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, além de países vizinhos como a Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia. Uma das consequências desse “tsunami” de fumaça seria exatamente o dia que virou noite em São Paulo.

A origem da crise
Pode-se dizer que o início dessa crise reside na divulgação de dados, por meio do Inpe, que mostram: a perda da vegetação este ano pode ter sido bem maior que no ano anterior.

De acordo com relatório publicado em julho, teria havido um aumento de 82% no volume do desmatamento na Amazônia. O alerta ligado pelo Inpe irritou o presidente Bolsonaro, que apressou-se em desqualificar os números apresentados. Alegava uma “interpretação equivocada” por parte do presidente do órgão, Ricardo Galvão, que estaria “a serviço de ONGs”.

“Se quebrar confiança vai ser demitido sumariamente, não tem desculpa para nenhum subordinado ao governo divulgar dado com esse peso de importância para o nosso Brasil. A questão de perder a confiança, no meu entender é uma pena capital. Nem na vida particular convivemos com pessoas que perdemos confiança. Temos muita responsabilidade em identificar se houve má-fé ou não”, disse.

Galvão perdeu não só a confiança, como também a queda de braço com o presidente e, no início deste mês de agosto, pediu demissão do cargo. “O meu discurso em relação ao presidente criou um constrangimento. Tinha uma preocupação muito grande que iria respingar em mim”, explicou.

Índios na pré-história
É possível concluir, porém, que a política ambiental do governo federal vai contra o discurso de sustentabilidade pregado mundialmente. Em julho, o presidente, ao discursar na Superintendência da Zona Franca da Manaus, disse que a região sofreu com o que chamou de “indústria da demarcação de terras indígenas“, ocorrida em governos anteriores. Para ele, os índios brasileiros ficaram reclusos como se fossem “um ser humano da pré-história”.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou a intenção de “legalizar o garimpo” na região e de permitir que empresas estrangeiras possam explorar as riquezas da Amazônia, em parceria com companhias brasileiras.

Nesse cenário de desmatamento, fogo e fumaça, as partes interessadas sobem o tom e as críticas. De um lado, personalidades como os atletas Cristiano Ronaldo, Novak Djokovic, Lewis Hamilton, Mbape, Salah e Serena Williams, o ator Leonardo di Caprio e a cantora Beyoncé, além de Macron, e veículos como o The New York Times, BBC, The Guardian, DW, El País, EFI, France Press expõem suas preocupações com o futuro do “pulmão do mundo”.

Consequências
Bolsonaro não baixa a guarda: ataca outras nações – “Um país agora, que não vou dizer o nome aqui, falou da ‘nossa Amazônia’. Teve a desfaçatez de falar ‘a nossa Amazônia’. Está interessado em um espaço aqui da Amazônia para ele” -; ONGs – “Quando se fala do Fundo Amazônia, de vir dinheiro de fora, mais ou menos 40% disso ia para ONGs. É dinheiro na mão de pessoas que não trabalham pelo interesse do Brasil”; e até mesmo produtores rurais – “Há suspeita que tem produtor rural que tá agora aproveitando e tacando fogo em geral aí. As consequências vêm pra todo mundo”.

Por enquanto, a consequência é uma só e remete ao início deste texto: a Amazônia arde.

Fonte: Metrópoles

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