‘Bolsonaro é confuso e incompetente’, diz Caetano em entrevista ao The Guardian
Para o cantor e compositor baiano, o presidente propõe “soluções fáceis e suspeitas para problemas complexos”, como a pandemia de coronavírus
“Ter um governo militar é horrível e Bolsonaro é tão confuso e incompetente. O governo dele não fez nada. O que o Executivo brasileiro fez desde que ele se tornou presidente? Nada…”, afirmou. “O que vimos até agora tem sido mais sobre destruição. Tudo que tem sido feito na Amazônia é para encorajar o desmatamento, tudo que tem sido feito na esfera cultural é pelo desmantelamento… Museus, grupos de teatro, produtores de música e cinema”, acrescentou.
A postura negacionista de Bolsonaro em relação à pandemia do coronavírus também foi alvo de críticas por parte de Caetano. Para o artista, o presidente propõe “soluções fáceis e suspeitas para problemas complexos”. “É bestial, e o presidente mantém a posição dele, embora ele mesmo tenha sido infectado. Ele nem mesmo fez como [o primeiro-ministro britânico] Boris Johnson, que mudou de método após ser infectado”, disse.
Caetano também falou sobre a apropriação dos símbolos nacionais por parte dos apoiadores do presidente, de maneira similar ao que ocorreu durante a ditadura militar. Ele recordou um episódio ocorrido durante a Copa do Mundo de 1970, quando ele e Gilberto Gil, também exilado em Londres, decoraram a casa com bandeiras do Brasil para celebrar a vitória da Seleção Brasileira. Amigos que visitaram os dois artistas ficaram consternados, porque “parecia que eles estavam apoiando a ditadura”.
“Eu até diria ‘Não, a ditadura não é o Brasil!’. Mas é claro que sabíamos que a ditadura era um sintoma do Brasil, uma expressão do Brasil, e isso era o que o Brasil estava sendo naquele momento, assim como está sendo hoje um monte de coisas que não são fáceis para a gente engolir”, disse. “Você não pode dizer que Bolsonaro não é o Brasil. Ele é parecido com muitos brasileiros que eu conheço. Ele é muito parecido com o brasileiro médio: de fato, a permanência dele e de seus aliados no poder depende da ênfase nessa identificação com o brasileiro ‘normal'”, acrescentou.
Mesmo com as críticas, o músico disse que se mantém otimista quanto ao futuro do Brasil e confia no “enorme potencial” do país. “Nossa floresta, nossas músicas, nossas peças e filmes estão sendo ameaçadas por esse governo, e estão sob um processo de destruição. Mas, como um dos membros desse grupo que produz música popular, eu asseguro que estamos aqui. O Brasil está aqui”, pontuou.
Fonte: Bahia.BA