Estudo aponta que retomada econômica passa pela questão ambiental

Consenso é que se questão ambiental não for tratada de outra forma, corre o risco de enfrentar crises muito maiores do que a de Covid-19.

Agência Brasil
Foto: Ascom SDE
Foto: Ascom SDE

 

Por Cristina Indio do Brasil

A retomada econômica do Brasil passa pela discussão da questão ambiental para permitir que o país seja mais resiliente diante de crises mundiais, como a atual da Covid-19. Essa foi uma das mensagens do seminário virtual organizado pelo Instituto ClimaInfo, o Observatório do Clima e o GT Infraestrutura. Nesta quinta-feira (3), durante o encontro, foi apresentado o relatório com propostas para uma retomada verde e inclusiva no país em resposta à crise econômica provocada pela pandemia e pela crise climática.

O trabalho analisou oito setores chaves, entre eles, o de energia solar, mobilidade, saneamento e resíduo sólidos, identificados com oportunidades de, no curto prazo, gerar empregos, incentivar o crescimento econômico e oferecer mais qualidade de vida à população.

A intenção do trabalho é colocar à disposição de autoridades brasileiras estudos, números, formas de trabalho, estratégias, que deem a visão de um país melhor e mais resiliente e que trata da natureza.

“Muito do que é oferecido nesse estudo, nós gostaríamos bastante que fosse encarado pelos candidatos e próximos representantes nas prefeituras, como caminhos muito interessantes para as gestões dos municípios e que poderia trazer muito ganhos para a gestão desses próximos eleitos e para toda da população”, disse o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.

O ambientalista disse que após a pandemia o mundo não pode voltar à antiga normalidade ou ao que havia antes em termos de questões ambientais. “Aquele normal, aquele modus operandi nos trouxe até aqui, ele nos trouxe a um mundo com uma série de problemas e uma série de desafios, que vão exigir esforço de todos nós, cidadãos, empresas, líderes nacionais e internacionais na busca de soluções de novos modelos de desenvolvimento”, disse.

Para Astrini, o Brasil tem grande possibilidade, nesse momento, de buscar um novo modelo de desenvolvimento com ganhos não só do ponto de vista econômico e ecológico, mas, sobretudo, do ponto de vista social. “O Brasil é um país preparado para isso, um país abençoado com uma natureza, capacidade, possibilidade, e mais que isso, com uma vocação para o desenvolvimento de sistemas e de uma economia baseada, principalmente, em soluções climáticas, investimentos exclusivo, e isso tudo com forte poder de alavancagem da economia”, disse.

Na visão do ambientalista, esse é o caminho mais inteligente a seguir. “Ou nós seguimos por esse caminho novo ou vamos continuar insistindo no modelo poluente de destruição da natureza, de geração de desigualdades, que têm impacto muito grande no planeta”, observou.

Questão ambiental

Um consenso entre os participantes do encontro foi o de que se o mundo não começar a tratar de outra forma a questão ambiental, corre o risco de enfrentar crises globais muito maiores do que a que está atravessando com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

O professor de economia da UFRJ e coordenador grupo de Economia de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Carlos Eduardo Young, disse que a retomada verde inclusiva deve passar pela recuperação de demanda efetiva, que não se trata de qualquer recuperação econômica, mas uma atividade acompanhada da conservação dos recursos naturais.

O professor defende que a geração de empregos precisa garantir a inclusão social de indivíduos de baixa renda. “A recuperação econômica vai ser dada pelo investimento, gasto que vai gerar inclusão social e conservação ambiental. Esta é uma possibilidade que está sendo implementada de um jeito ou de outro em diversas partes do planeta”, disse, acrescentando que, no entanto, não ocorrerá de forma espontânea.

“Terá que ser conduzido por políticas públicas. A economia verde, de baixo carbono, é uma possibilidade que precisa ser induzida pelo Estado em apoio ao setor privado”, disse.

O professor apontou ainda a reforma tributária como um bom momento para discutir os impostos que podem ser incluídos no princípio do poluidor usuário pagador que combine com o protetor recebedor. “A experiência do ICMS ecológico revela que o setor público responde a esse incentivo, que é uma premiação do desempenho ambiental”.

O secretário- executivo do GT Infraestrutura e especialista em políticas públicas, Sérgio Guimarães, disse que não há como saber até quando vai durar a pandemia, que já causou graves problemas sociais como o desemprego. “Toda vez que ocorre uma crise como a da pandemia, ela expõe a abissal diferença social”.

Preocupação

A diretora-executiva do instituto de pesquisa WRI Brasil, Rachel Biderman, destacou que o Brasil é reconhecido por ter empresas do setor privado que são preocupadas e investem em programas ambientais. Segundo Rachel, o Brasil está apto a liderar o desenvolvimento verde.

Rachel Biderman disse que cenários factíveis realizados pelo estudo indicam que se o país optar por uma retomada econômica verde, poderia crescer R$ 2,8 trilhões a mais nos próximos anos em relação a planos econômicos tradicionais. “Se a gente inserir na equação algumas premissas de sustentabilidade, se a forma com que a gente passa a fazer investimentos e passa a regulamentar aspectos da economia, forem no sentido do baixo carbono, a gente consegue crescer”.

Na questão social, o diretor-executivo do Instituto ClimaInfo, Délcio Rodrigues, disse que é preciso incentivar a participação das populações negra e periféricas nas discussões ambientais internacionais, que, segundo ele, já contam com o envolvimento de indígenas.

“O movimento indígena ganha muito com isso, e a gente não consegue ver a mesma coisa no movimento negro e no periférico. Gostaria de saber o que eles ganhariam e como podemos contribuir para a ampliação de movimentos sociais que não participam hoje da discussão climática internacional”, defendeu.

Fonte:Bahia.ba

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