Moro se comportou como chefe do MPF em novos diálogos, diz revista

Em novos chats divulgados, o juiz cometeu irregularidades revisando peças dos procuradores e até deu “bronca” neles.

[Moro se comportou como chefe do MPF em novos diálogos, diz revista ]
Foto : Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por Juliana Almirante

Publicação da Revista Veja de hoje (5), em parceria com o site The Intercept Brasil, afirma que o ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Sérgio Moro, aponta que o ex-juiz  comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado.

O novos diálogos, mantidos pelo aplicativo Telegram e obtidos pelo site, mostram que Moro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem. Ainda nos chats, o juiz cometeu irregularidades revisando peças dos procuradores e até deu “bronca” neles.

Uma conversa de 28 de abril de 2016 mostra que o então juiz orientou procuradores a tornar mais robusta uma peça. No diálogo, Deltan Dalla­gnol, chefe da força-tarefa em Curitiba, avisa à procuradora Laura Tessler que Moro o havia alertado sobre a falta de uma informação na denúncia do réu Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras.

Skornicki foi delator na Lava-­Jato e confessou que pagou propinas a vários funcionários da estatal, entre eles Eduardo Musa, mencionado por Dalla­gnol na conversa. “Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”, diz Dalla­gnol.

No dia seguinte, o MPF incluiu um comprovante de depósito de 80 000 dólares feito por Skornicki a Musa. Moro então aceita a denúncia minutos depois do aditamento e, na sua decisão, menciona o documento que havia pedido. Dessa forma, de acordo com a revista, o então juiz claramente ajudou um dos lados do processo a fortalecer sua posição.

A revista ainda aponta que, além de uma intimidade excessiva entre a magistratura e a acusação, as conversas mostram “uma evidente parceria na defesa de uma causa”. Os exemplos mais robustos são das conversas entre Moro e Dalla­gnol. Em 2 de fevereiro de 2016, por exemplo, o juiz escreve a ele: “A odebrecht peticionou com aquela questao. Vou abrir prazo de tres dias para vcs se manifestarem”. Dalla­gnol agradece o aviso. Moro se refere ao questionamento da Odebrecht à Justiça da Suíça a respeito do compartilhamento de dados, incluindo extratos bancários, da empresa naquele país.

A empreiteira tentou impedir que o Ministério Público suíço enviasse dados à força-tarefa. Preocupado com a história, Moro pede notícias a Dalla­gnol no dia 3. “Quando sera a manifestação do mpf?”, pergunta. “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”, responde o procurador.

No dia seguinte, Dalla­gnol informa a Moro que a peça estava quase pronta, mas dependia ainda da revisão de colegas. “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”, escreve.

Moro tranquiliza Dalla­gnol: “Pode ser amanha”. No dia 5, prazo final, por volta das 15 horas, Dalla­gnol manda pelo Telegram ao juiz a peça “quase pronta”. Segundo a revista, a situação é completamente irregular, porque juiz e procurador deveriam se comunicarem de forma transparente pelos autos. O chefe da força-­tarefa chega a enviar a Moro uma versão inacabada do trabalho para que o juiz possa adiantar a sentença.

Procurados pela Veja, Deltan Dalla­gnol e Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos fossem enviados a eles de forma virtual, mas alegaram compromissos de agenda e recusaram-se a recebê-­los pessoalmente, uma condição estabelecida por Veja.

Fonte: Metro 1

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