Veja quem é o tenente que prendeu professor com faixa contra Bolsonaro

Marlon Jorge Albuquerque aparece em lista oficial como professor de “uso seletivo da força” no Comando da Academia da Polícia Militar goiana.

Reprodução
Goiânia – Afastado das funções operacionais por prender um professor do Ensino Médio que se negou a tirar do capô de seu carro uma faixa com os dizeres “Fora Bolsonaro genocida” em Goiás, o 1º tenente da Polícia Militar Marlon Jorge Albuquerque é instrutor de curso de aperfeiçoamento de colegas de farda. Com expressa autorização da PM, é professor de “uso seletivo da força”.

O tenente Albuquerque, como é chamado, foi retirado das ruas nesta terça-feira (1º/6), um dia depois de prender o professor e dirigente do PT em Goiás Arquidones Bites, em Trindade, na região metropolitana. A Polícia Federal em Goiânia, para onde o educador foi levado, o liberou por entender que ele não violou a Lei Nacional de Segurança, como alegou o oficial.

Comandou abordagem

Assessor de comunicação e porta-voz da PM goiana, o tenente-coronel Dalbian Guimarães Rodrigues disse que Albuquerque foi afastado das ruas porque ele comandou a abordagem contra o professor, apesar de outros três policiais aparecerem em vídeo, gravado por testemunhas, agredindo o professor para imobilizá-lo.

Metrópoles obteve, no portal Goiás Transparente, o nome completo do tenente, até então mantido sob sigilo, e o confirmou junto ao porta-voz da PM de Goiás. Além de atuar em Trindade, Albuquerque também ocupa cargo no Comando da Academia da Polícia Militar, segundo a transparência.

Instrutor de curso da PM

O nome do tenente também aparece na lista de 17 instrutores de curso do Comando da Academia da Polícia Militar. Eles receberam ordem para fazer adequação dos conteúdos programáticos presenciais para a modalidade de ensino à distância por causa da pandemia da Covid-19, conforme portaria assinada pelo comandante-geral da PM, Renato Brum dos Santos, em maio de 2020.

De acordo com o documento oficial, Albuquerque, assim como os demais instrutores, é liberado pelo seu superior sempre que for solicitado a comparecer a reuniões de trabalho no Comando da Academia da Polícia Militar.

O porta-voz da PM disse que o fato de Albuquerque estar listado como instrutor não significa, necessariamente, que esteja ministrando aulas. “Não sei te responder se ele ainda está exercendo a função de instrutor. O fato de ter publicado uma portaria não quer dizer que atualmente ele tenha dado aulas de instrução”.“Ele já foi afastado. Geralmente, quando se é afastado das funções operacionais, fica exclusivamente no exercício de funções administrativas, trabalhando na parte interna da unidade, apenas administrativamente”, explicou o porta-voz da corporação.

Em dezembro de 2019, o tenente publicou um agradecimento aos seus alunos do Curso de Habilitação de Oficiais Auxiliares (Choa), destinado à capacitação de subtenentes e sargentos. “Uma honra receber esta grande homenagem dos alunos oficiais do CHOA19. Uma turma diferenciada. Agradeço ao Oficial Elyezer e toda turma do CHOA 2019”, escreveu.

Segundo o porta-voz da PM, o oficial está autorizado a exercer apenas atividades administrativas até que as investigações do inquérito policial militar concluam, no prazo de 40 dias, se ele agiu, ou não, com abuso de autoridade. O tenente também vai responder a processo administrativo disciplinar.

Carreira

O tenente compõe o quadro de pessoal da PM desde janeiro de 2010, de acordo com o Goiás Transparente. No último mês, teve salário total de R$ 16,1 mil, mas recebeu, de fato, R$ 10,5 mil, tirando os descontos.

Em 2010, Albuquerque, na época 1º sargento da PM, recebeu a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira “por contribuir para a segurança e o desenvolvimento do estado”, conforme propositura do então deputado Paulo Cezar Martins (PMDB) – hoje MDB.

O oficial da PM é conhecido pelos seus pares como defensor ferrenho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele é bastante conhecido pelos seus pares por colecionar críticas contra a esquerda.

“Bolsonaro genocida”

O educador Arquidones Bites levava em seu carro uma faixa com os dizeres: “Fora Bolsonaro genocida”. Ele foi parado por uma guarnição de quatro policiais militares na rua e solicitado a retirar a indumentária do veículo.

De acordo com o tenente responsável pela abordagem, identificado como Albuquerque, o professor estaria infringindo a Lei de Segurança Nacional no trecho que proibiria calúnias ao presidente da República.

Criada pela ditadura militar, e modificada em 2016, novas mudanças na lei estão em debate no Congresso e sob avaliação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio, a Câmara aprovou projeto que a revoga, mas ainda falta o Senado decidir sobre o tema.

Abuso de autoridade

O governo de Goiás confirmou, em nota, que o “policial militar foi afastado de suas funções operacionais. Ele responderá a inquérito policial e procedimento disciplinar para apuração de sua conduta”, disse texto assinado pela SSPGO.“O governo de Goiás, por meio da Secretaria de Segurança, informa que não coaduna com qualquer tipo de abuso de autoridade, venha de onde vier. Assim sendo, todas as condutas que extrapolem os limites da lei são apuradas com o máximo rigor, independentemente do agente ou da motivação de quem a pratica”, afirmou a nota.

A Polícia Federal informou, também por meio de nota, que, após ouvir todos os envolvidos, “entendeu-se não ter havido transgressão criminal de dispositivo tipificado na Lei de Segurança Nacional”.

Irmão do ex-secretário do Entorno do Distrito Federal e ex-vereador de Valparaíso de Goiás Arquicelso Bites, que morreu vítima da Covid-19 em 30/3, Arquidones disse ter tomado um soco dos policiais que o pararam na rua, em Trindade (GO), na segunda-feira. Ele protestou em memória do irmão caçula.“Somos 19 irmãos, veio morrer justamente o caçula. Ele saiu da ordem”, lamentou Arquidones. “Saiu da ordem por causa que o presidente da República, esse genocida, não comprou vacina”, discursou ele, repetindo a frase que incomodou os PMs goianos, ao sair da Polícia Federal em Goiânia.

Segundo caso em 4 dias

Essa não é a segunda vez em quatro dias que a PM de Goiás se envolve em polêmica relacionada à abordagem. Na sexta-feira (28/5), repercutiu em todo o Brasil o momento em que uma dupla de policiais abordam um jovem negro em Cidade Ocidental.

O youtuber Filipe Ferreira filmava manobras em uma bicicleta para seu canal quando os PMs param a viatura, apontam as armas e o revistam. Ele disse que foi vítima de abuso de autoridade.

Fonte: Metrópoles

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